Eu protegi seu nome por amor

Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 2010.

“ Eu protegi o seu nome por amor ...”

( Cazuza)

“....Cinquenta anos não pode ser término de nada, ao contrário, só pode representar renovação, renascimento.... Já tive um filho, plantei muitas árvores e só não escrevi ainda um livro, mas já três monografias. Enfim, cumpri com o que esperavam de mim e o meu compromisso com Deus. Não sei se o que me resta agora são dois, cinco, dez, vinte ou mais anos.. Não importa, posto que o tempo agora será só meu. E quero gastá-lo lendo os livros que não li, vendo os filmes que não vi, visitando os lugares onde nunca estive e, principalmente, amando como nunca amei ninguém...”

Este foi o teor do meu discurso ao completar meio-século! Muito tempo quando se pensa na quantidade de anos. Pouco tempo ou quase nada para quem o viveu. Neste dia, você, por uma ou outra razão, lá não estava, embora desde a tarde anterior já houvesse penetrado de mansinho em meu coração, e ainda que inicialmente apenas por curiosidade, se instalado também em meu pensamento. Nunca mais consegui deixar de pensar em você...

Temos convivido durante todo este tempo. Éramos dois velhos conhecidos “desconhecidos”, tateando um a estrada do outro, na busca do caminho que acreditávamos haver deixado na adolescência. Éramos, hoje não mais! Agora me parece que o passado e o presente se fundiram se tornando uma continuidade. Depois de alguns tropeços, tombos, arranhões, pedidos mútuos de desculpas, e uma vontade enorme de superar, o estranho vazio entre os tempos já não mais existe. Há muito, você fixou residência em mim e penso que eu em ti. A cada instante lembro-me do seu sorriso, do seu olhar, que é, especialmente, o que mais te gosto. Parece-me que você nunca deixou de estar em minha vida, que sempre foi assim...

“ Tem os olhos cheios de esperança

De uma cor que mais ninguém possui

Me traz meu passado e as lembranças

Coisas que eu quis ser e não fui..” RC

Encontrar-te aos domingos passou a ser um compromisso natural. Se na praia, o prazer de ver as pessoas, de andar na rua, de estar no mundo contigo. Se na “nossa” casa o prazer da intimidade...Cada canto dali respira a nós dois. Quando nos afastamos, me parece que um pedaço de mim se vai. Já não me concebo mais sem você. Deixei de ser um inteiro, passei a ser apenas uma parte de um todo, apenas uma parte de nós.

Tem sido mais complicado do que pensei que seria, mas, como disse Antoine de Saint’ Exupéry, “Que o sofrimento te acresça quando o aceitas, porque ele te faz crescer e criar raízes e ramos...”. Já temos, cada um, nossa própria estória escrita, que não tem como ser modificada, e ainda que possível, a maior parte dela nós mesmos não gostaríamos que o fosse. Penso que o nosso sonho, e por isso mesmo, sonho, é que pudéssemos inserir um ao outro em nossa própria estória, excluindo, dela, o que não valeu à pena. Mas isso, embora gostoso de se imaginar, não corresponde à realidade.

Então, já que falamos em realidade, vamos à ela:

No início, foi apenas uma curiosidade, um passado voltando, uma lembrança gostosa. Hoje não, hoje é diferente. Fico me lembrando do nosso primeiro encontro e vejo como progredimos. Concordo com você quando me diz que as brigas, não são brigas, são ajustes que fazem com que a gente só se queira mais. É fato. Penso que somos diferentes apenas porque tivemos trajetórias diferentes, mas compensamos isto com os nossos valores, que não mudamos, e é isso que nos mantêm cada dia mais juntos. Só amamos a quem admiramos, e só admiramos aqueles em quem vemos os valores que carregamos em nós mesmos. Por isso é que se diz que o ser humano sempre busca a sua “alma gêmea”, e também porque sempre afirmo que “ os opostos podem até se atrair, mas não se mantêm”. O que se mantêm são as igualdades. E nas igualdades que de fato interessam, nos somos 100% idênticos. Somos 100% valores!

A cada dia gosto e mais de você, da maneira carinhosa como você fala comigo, até do “tom um pouco mais severo” que de vez em quando usa comigo. Todos precisamos de um certo freio. Gosto de seu jeito de brincar, de sua fala. Gosto de cuidar de você e das suas coisas, e, embora, afirme não precisar de ninguém para as coisas práticas da vida, gosto quando você gentil e carinhosamente faz questão de cuidar de mim e de minhas coisas, sinto que alguém, de fato, se importa comigo. É um gostar carinhoso, afetuoso, amigo, companheiro. Fico muito mal quando brigamos.

O meu projeto de vida com você?

“Olha você tem todas as coisas, que um dia eu sonhei pra mim, a cabeça cheia de problemas,

não me importo eu gosto mesmo assim” RC

Ficar ao seu lado pelo resto da minha vida, não me importando, se na minha casa, se na sua casa, se nas duas casas ou se em um outro lugar qualquer. Não precisamos de muito, e quer saber, às vezes é tão reconfortante não ter que ter muito. Como você me disse, é só somar e administrar o que temos, o “departamento de contabilidade” já fez um balanço e apurou que dá, inclusive, com um certo lucro... rsrsrsr... Não temos que construir mais nada, acrescer mais nada. (tudo bem, se você ganhar na Mega Sena, a gente até repensa, né?, rsrsr...) Relembrando o meu discurso lá de cima, “ já cumprimos com o que esperavam de nós e o nosso compromisso com Deus “.

Contigo, quero ter finalmente uma família. Quero que meu filho seja também, no amor, no respeito, no carinho, seu filho, e que seus filhos sejam, igualmente, meus filhos, e os “nossos” netos, os filhos que não tivemos juntos, e aí sim, teremos nós dois uma família enorme, que sempre foi o meu sonho. Por isso o nosso “Cantinho da Felicidade”, a “nossa” casa não poderia ser pequena, lá poderemos juntar todos no natal! E a “nossa” casa, que você construir para nós dois, não importa quão pequena ou simples seja, faço questão de amar e cuidar com o mesmo carinho e capricho que cuido do “Cantinho da felicidade”. O importante é que seja a “nossa” casa, que você me faça sentir que também pertenço a ela, e ela, a nós dois.

Como mulher quero dormir e acordar ao teu lado a cada dia (e reafirmar que longe de ser monótono percorrer esta estrada cada vez mais conhecida, tem sido uma maravilhosa aventura. Que cada caminhada tem tido um sabor diferente, onde cada esquina guarda um segredo que juntos temos enorme prazer em desvendar).

“Olha, vem comigo aonde eu for

Seja meu amante, meu amor

Vem seguir comigo o meu caminho

E viver a vida só de amor.” RC

Como amiga, como companheira, como parceira, “rapaz”, quero partilhar as nossas vidas, para sorrir, chorar, tomar as dores um do outro. Quero, finalmente, aprender a pescar e a dançar. Quero andar a pé e de bicicleta. Se a gente tiver um carro, legal, se não, aquele “mercedão” com motorista também é legal, afinal não “nascemos com rodinhas”. Embora convenhamos, sofrer em “alto estilo” é muito melhor, principalmente se for a bordo de um “negão” 1.6 Flex, completo........ rsrsrsrsr – mas enquanto isso, por favor, não brigue com o marrentinho, afinal ele é “marrento”, você sabe!!!

Para você, quero contar as estórias dos livros que li, falar dos lugares que conheci, mas também ouvir e falar bobagem, contar piada, rir ou simplesmente não fazer nada e esse nada ser simplesmente tudo só porque estamos um ao lado do outro. O importante para mim é que seja de verdade e da maneira como tem sido. Há, não podemos deixar de fora as brigas, porque certamente existirão, afinal não se pode esperar uma convivência pacífica – e sem graça – de um “leão”, com “esse ser híbrido de animal e homem, cuja parte humana anda armada até os dentes”, mas, já que não se terá mesmo um jeito de acabar com elas, então que nos acresçam e nos façam crescer a cada dia.

Quero, finalmente, poder te apresentar aos meus amigos e orgulhosamente dizer: “este é homem da minha vida, aquele que eu escolhi para ficar ao meu lado pelo resto dos meus dias”. E todos que me conhecem, e, principalmente, porque me conhecem, saberão que é verdadeira esta minha afirmação. “ Eu que sempre fui tão inconstante te juro meu amor, agora é pra valer” RC.

Sabe, o legal de ter ultrapassado meio século é poder exercer aquela liberdade que se tentava a todo custo na adolescência, onde afirmávamos que não devíamos satisfação a ninguém. Hoje, de fato, não devemos, talvez consideração, respeito, mas a vida é só minha, é só sua, é só nossa.

E aí, quer casar comigo???!!!

“ Beija-Flor”

(Cazuza)