CAGANEIRA CEREBRAL

(para meu epitáfio)

Ninguém pode me dar o conselho perfeito. Mas ninguém tem culpa, são as minhas circunstâncias que impedem um raciocínio completo. Às vezes sonho que vou receber uma carta com todas as respostas e, quando acordo, percebo que acumulei mais cem perguntas...

É difícil não usar a vírgula, assim como é difícil perceber todas as más intenções dos seres humanos. Aí me dou conta de que não sei mais rezar: perdi a pureza de espírito e com isto adquiri toda desconfiança de quem vive num mundo além dos seus pés e dos olhos.

A responsabilidade é minha, pois prefiro acordar com a vontade de um café do que o amargo do último gole de cachaça. Pois queria ser puro para ser um poeta, porém sou um cara moldado pelo imediato, quase com senso comum, quase um consumista de clichês, quase um fumante.

Todo este amargo eu explico: queria ser lembrado hoje e não pelos discursos e livros de história; fiquei velho com quarenta anos e debochado desde os... não lembro mais!