Conselheiro Pena - MG

Não queira meu caro amigo, minha cara amiga, sentir saudade como sinto agora.

Vejo que muitos dos nossos patrícios reclamam algo diferente e inovador, mas não perceberam ao seu redor a pureza dos dias, a magnitude do prazer, a alegria dos que os cercam e a afetuosidade de um vizinho irmão. Porque, é justamente ai, aonde todos estão como hospitaleiros conterrâneos, que nos inquietamos por um breve regresso à terra querida.

Lugar onde queremos estar quando ausentes, se estamos lá, damos pouca importância. Nesse ambiente onde nascemos e vivemos, sabemos, aqui distante nos faz sentir saudade. Então, nas horas de pensamentos mil, sempre nos flagramos a pensar em Conselheiro Pena. - Quanta saudade!

Perdoe-me no desabrochar destas considerações, mas por cá, sentimos saudades não somente das coisas e dos fatos, mas principalmente das pessoas que vem e que vão. Pessoas que riem como rio por aqui. Que sonham e sabem cativar as pessoas em terras distantes. Saudade dos que partiram, deixando registrada as suas memorias.

Guardamos lembranças de pessoas que hoje vivem, como viveram tantos outros memoráveis cidadãos desta terra. Pessoas que não imaginam a dimensão e o valor do que hoje se faz e que poderá transforma-lo em cidadão, personagem da nossa história. Da história de Conselheiro Pena. Isso num futuro distante, porém de forma merecida!

Não podemos falar de Conselheiro Pena apenas como um recanto, ou cidade das Minas Gerais, como um lugar às margens do Rio Doce, como uma cidade de pequeno porte e aprazível com suas cachoeiras e montanhas. Falamos da cidade onde o sol brilha para todos e a lua encanta os velhos seresteiros. Lugar onde o Céu é azul com esplendor e nas noites brilham cintilantes, as estrelas do velho sertão.

Mais, em tudo isso recordamos pessoas, lembramos de gente que construiu a cidade, que fez história e que guarda memória nos seus nomes e em suas referencias.

Quem não lembra da Rua Nova Lima como o antigo ponto da Boêmia? - Podemos citar o bar do Edésio, a antiga boate da Nair, a casa da Rosinha, a Socorro, Marlene Seixas, a Irani do Cabo João circulando imponente pelas ruas empoeiradas, a Verinha indo rumo ao Grupo Escolar Maria Guilhermina Pena, que maravilha! - Não dá para esquecer nunca a figura divinal de Jacira ao lado de sua Irmã Jussara com a tia Terezinha. A turma boa do Bar do Bidico no tempo em que, meio a ditadura militar, ainda se podia jogar nos fundos do bar a roleta, ou baralho em mesa redonda coberta de pano verde aveludado. Era cassino mesmo!

Nas lindas manhãs de domingo, nos anos 70, a missa matinal e em seguida o show das 10 era com certeza o melhor momento de lazer. Ali se reuniam no Cine Fátima (o cinema da cidade) os diversos cantores da cidade e um conjunto sempre presente de instrumentistas de primeira grandeza, de onde saiu para a vida artística o Cantor Fernando Mendes e seu parceiro Banana (Fernando Augusto): autores da musica A Desconhecida primeiro sucesso do artista. Fernando Augusto é cantor e compositor com vários sucessos lançados. Tivemos ainda no palco do Show das 10, o Taquinho (Eustáquio) que também gravou e lançou um compacto com as musicas ELE e O Pai da Aviação. José Wilson grande compositor, Jamir Leão, Dedé, Gilberto Feliciano Sérgio e tantos outros que tinham como missão fazer por meio da musica o entretenimento do auditório lotado.

Ali por perto, se podia ver o Pedro ferreiro e sua fornalha, os garotos trilhando entre as pedra que chegavam para calçar a Rua Orlando Vaz bem em frente à casa de Américo Bernardes, dono do posto Esso Fátima onde no anoitecer a gente fazia disputa de espaço na janela para pegar uma xêpa da imagem preto e branco da TV Tupi em um dos poucos televisores dentro da cidade a dar chance de assistir uma imagem chuviscada e péssima, mas que era novidade para todos. Da janela da Pensão da Dona Terezinha também se podia filar a imagem da primeira televisão do lugar. Depois, alguém inteligente colocou uma TV sobre a lage do viveiro no Jardim e dali a turma se reunia para assistir alguma coisa.

Impossível nesse tempo não visitar o bar do Dezinho com seu delicioso picolé, ou em frente ao Fórum o bar do Eliedes Henriques. Pela praça central, novinha em folha o viveiro cheio de pássaros, o ponto mais requisitado em várias épocas: primeiro o bar do Kaiser, depois do Zé Preto.

A lanchonete Quibes Lanche do Manoel Galinha já pelos anos 70'. O bar do João Antenor com mesas de sinuca, Casa Cruzeiro, Pensão Bahia e a cantina Amarelinha do Edinho Bernardes anexo ao Posto Esso, próximo da Prefeitura, ou em frente à Cooperativa. Subindo à direita para a Casa do Manoel Calhau, passávamos frente a Casas Barros, fazia bagunça na porta do Tatá, quando batíamos palmas e a senhora que vinha atender ouvia a mesma pergunta de sempre: o Sô Tatá Tá?; ela respondia - Tatá tá Não... e a gente continuava: Já que o Sô Tatá não Tá, tá bão, obrigado... (isso até que desconfiou ser molecagem e ai passou a não ter mais graça).

Outra figura, o Chiquinho Felix, concorrentes do Arnô Coelho... de um lado Mercearia Félix (depois transformado em Supermercados Pague Pouco) e a mercearia Coelho, ampliado para Supermercados Coelho. E ao lado o Armazém do Dadá - Adail Camilo da Silva.

Subindo a Avenida Getúlio Vargas, depois da casa do Flor, onde víamos o Germano, Lupano e o Lua falando de Bola, a casa seguinte era da professora Dona Sãozinha, casa do Capadinho e do Liobino marido da dona Dirce, mãe da Turú, Tula e Delicéia...

Chegamos na casa do Sô Nego pai do Onildo e Gilberto onde se fazia roda de Violão até quase amanhecer o dia. Ali sempre marcavam presenças, o Pé de Jaca, Tijolinho, Jorge Cupim, Taquinho, João (Jackson), Zé Bento, Ostin Botelho, Zaqueu Leal (Baessa), Marquinho Alves (irmão do Banana), Ultimo de Carvalho, Vovô da Aurora (Paulinho), Luiz Catraca, Zé Luiz Fisgudo, Zé Rosa, Waltinho DP 6, Olair José (atualmente conhecido compositor: Olair Antonio, filho do Antônio Fogueteiro), o Paulo Alves Matias que foi para o Rio de Janeiro e desapareceu.

Nesse tempo já proseávamos com o Wilde Aquino que mostrava suas crônicas e poesias num escritório que abriu com o senhor José Alves marido da dona Cacilda Alves da Costa, onde passava sempre o Marquinho (Marco A. Alves).

Lembrei-me do Chaquib que bem de manhã em sua sala estava comendo pão de sal comprado na Padaria da Dona Marta ou Oscar. Chaquib retirava do pão o miôlo branco como algodão e limpava o bigode...(que coisa feia!).

Fechando então alguns personagens desta história, buscamos o Osvaldo da Bangu, o Antônio Trindade conhecido como Antônio do Pó, o Zé da Aurinha, o João Farrapo, Zé do Paulo, Pãozinho e o Pão Velho, o Piano e o Zezinho Pescador, Osvaldo da Cazuza, Júlio Português, Maria Biúna e o Zé da Maria Biúna, Cachilepe e o Espalha brasa (popular :Ispaia).

É fácil notar que poucos não tiveram apelido em Conselheiro Pena.

O hoje; que agora se faz, no futuro, será o passado mais lindo que nossos descendentes ouvirão e contarão de lar em lar. Basta que saibamos cativar os belos instantes do nosso momento atual, lançando-os ao mundo para prevalecer como memorial da nossa presença.

São esses fatos que nos fazem lembrar que nossos avós fizeram, nos falando das coisas idas, e que se não fizermos agora com os nossos filhos, certamente reclamarão deste grotesco descuido com os fatos reais das nossas vidas.

Conselheiro-penenses ausentes, ou presentes, se não recordam de algumas imagens que os olhos viram, poderão ler nas "Cartas e Contos de Wilde Aquino" o quanto fizemos por aqui para retratar o passado nesse celeiro de história e neste exato momento. Nossa esperança é de podermos transformar a escuridão da mente em tela do nosso cinema interior, e o tumulto do cérebro como um vídeo tape que de forma singular projeta na alma os fatos, as pessoas, as histórias e os casos (ou causos). Coisa, que de saudade às vezes nos faz sorrir, sonhar, viajar espiritualmente através do tempo. Nos faz até mesmo chorar de emoção.

Temos saudades daqueles tempos, dos anos dourados e de muitos que se foram, daquelas pessoas que permanecem no nosso meio, sempre com a esperança de uma acolhida dos que regressam. Sinal de que temos sempre alguém voltando e deixando de ser conselheiro-penense ausente.

E diante das virtudes do lugar, sem saber se um dia algum poeta se referiu a este chão com seus versos de louvor à terra querida, quero por aqui fazer daqueles versos tradicionais, o hino de minh'alma, pois sei que "MINHA TERRA TEM PALMEIRAS, ONDE CANTA SABIÁ..." - Assim é ""meu belo Conselheiro que conheço por inteiro como a palma de minha mão...""

André Almeida
Enviado por André Almeida em 11/06/2011
Reeditado em 12/01/2017
Código do texto: T3027553
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