A mim mesmo, não aos psicanalistas

Quando estás numa cadeira conversando com o/a psicanalista, ele/ela está te analisando, porém tu também estás te analisando e não o sabes. Ou o sabes? Ou o sabem? Te analisas quando estás fora daquela cadeira? Segues com a análise e sem a cadeira depois da sessão? Segues com o/a psicanalista ao teu lado, a tua frente, atrás, caminhando contigo, tu arrastando a cadeira em que ele/ela agora está sentado?

Teus sonhos são apenas sonhos e mais que sonhos, porque não deves levar a carga do medo, da angústia, da aflição ao máximo por eles, se acordas acordas e nisto concordas, para cada acordar há que se aliviar do sonho ruim, se não não terias acordado, e mesmo que acordes dentro de outro sonho ainda assim terás acordado, isso é acordar, acordar não é apenas ou nem é às vezes um estado de espírito, mas é muitas vezes e é também uma ação: se acordas acordas e nisto está ação. Se agistes dentro de um sonho ruim e acordastes ou mudastes o sonho ruim para algo bom ou não tão ruim, aí está o resultado de uma ação e não só ou não às vezes o estado de espírito, mas a ação. Como ter certeza de que estás sonhando dentro de um sonho também nem sempre é um estado de espírito, como pode bem o ser uma ação. Não somos apenas espírito nem apenas corpo, somos também o casamento de ambos no trajeto (e este também) em movimento, eis a beleza da ação.

Dentro da tua alma está algo de dentro da tua casa, pois se pode ser o inverso porque não poderia neste caso ser o deu rumo ao inverso? Casa mais arrumada, pesadelo (ainda que ruim) menos bagunçado, menos caótico. Os pesadelos, como os filmes de terror, também têm sua meta, faz com que os teus não a tenham como os têm aqueles filmes bagunçados de terros cuja classificação não o sabes, mas o sabes que não são bons, que estragam a narrativa. A narrativa de um pesadelo tem alguma função e não é a esta que deves dar toda a importância da tua vida, mas aprende a preparar tua casa para recebê-la em teus sonhos, pois receberás assim também devidamente os sonhos de alegria, tristeza, preocupação, chiste e etecetera, bem como receberás Fulano e Sicrano e Beltrano em diferentes dias e tempos climáticos de tua vida em tua casa.

Se tu não és só tu mas há um tu que a ti se apresenta, há aí um tu e um ti e algo que acima destes está e que a estes liga, Freud cunhou o Ego, o Id e o Superego e tais elocubrações ainda têm sua serventia até hoje, e tu bem o sentes que se ages pouco ou muito inconscientemente, assim o fazes e nisto concordas, portanto sabes que és um tu quando o fizeste e que não o fizeste como o farias se o tivesses feito conscientemente, nisto concordas e Freud também concordaria, se dizes que não és tu naquele eu com que fizeste algo mais inconscientemente que conscientemente, atenta que estás querendo mostrar a questão da insconsciência parcial ou total de tua ação e/ou presenciamento da ação diante desta, não apenas ou muitas vezes não que tu estejas fugindo à responsabilidade de admitir que foi um eu teu que fez o que fez. Esse teu eu, mais ou menos consciente, pode muito bem ser mais ou menos um eu a caminho de um tu para ti mesmo conforme a gradação inconsciente em que as coisas ocorrem. Apropria-te de teu Ego sem tornar teu Id ou Superego falsamente a mesma coisa que um Ego. Um eu é um eu, um tu é um tu, e as gradações servem para mostrar distâncias ou aproximações entre isto ou aquilo, não para mostrar inexistências de limites entre dois que devam ser somente o mesmo.

Tiveste um sonho ruim e precisavas recuperar teu fôlego, nisto concordas, podemos agora finalizar por aqui e voltar ao café e ao trabalho, nisto concordas?