Telletubbies Movidos à Cocaína

Uma fictícia carta de adeus dedicada a ninguém

Outra vez na lona.

Não que eu me importe. Não sou tão importante assim. Muito pelo contrário.

Não culpo ninguém pelo nocaute fatal que me pegou desprevenido. Logo eu que tinha acendido o pavio que iria dinamitar de vez dez anos de paz, amor & sossego. Logo eu que estava me sentindo entediado e fissurado por fortes emoções. Você apareceu. Eu me encantei. Gostei. Decidi enlouquecer de vez. Decidi que iria novamente viver. Ledo engado. Outro engano. Outro erro. Quase fatal. Para minha sorte tenho dois irmãos que escolhi a dedo e alguns amigos fiéis (aqueles das horas difíceis) que não enchem uma mão. Que dádiva, não acha? Não mensuro o que amealhei. Bem que eles tinham avisado. Mas nunca fui de dar ouvidos a ninguém. Sou assim. E acabei me mostrando para você assim como a cascata que desce a montanha revelando a rocha por detrás. Expus-me por inteiro para você. Minha vida & minha parca obra. Quando lhe contava sobre meu negro e morto passado você dizia que eu estava “pesado”. Quando desnudei meus sentimentos puros você fez troça. Eu confundi sua repulsa com timidez. Onde eu estava com a cabeça? Em você. Em teus olhos, teus modos suaves, sua ginga sinuosa, suas belas mãos. Era aí que eu tinha resolvi investir toda a minha sinceridade. Falhei.

Não se preocupe. Apenas continue sendo quem você é. Aliás, você achava que a atenção que eu lhe dava era apenas para sugar sua energia e me disse isso com todas as letras e eu resolvi ignorar achando que essa sua fase de incerteza poderia passar. Como fui tolo! Não tinha percebido até traçar essas linhas que não era uma fase: que isso era sua essência. É a sua essência e nada vai mudar. Não me arrependo de nada. Ou melhor, me arrependo de ter tentado ser coerente. E a coerência não faz sentido para você. Aprendi mais uma. Enquanto estiver vivo quero absorver toda a ideologia estúpida do ser humano para continuar sendo exatamente do jeito que sou. Nesse minuto você deve estar repetindo para si mesma a palavra “egoísta”. E atribuindo-a a mim. Claro. Não, meu bem querer. Eu não sou egoísta. Sou um altruísta que há muito anos combaliu seu ego quase até a plena ruptura. A esquizofrenia bateu à porta de meu sótão. Quem tem um ego altamente pronunciado é você. E o cultiva como se fosse uma extremada virtude. Que o cultiva com arma de defesa porque a você só importam os seus caprichos. Você é desprovida de sentimentos. Apenas movida pelos seus caprichos. Porém você pode. E deve ser assim. Outra vez vou falar sobre sua timidez. Como fui burro! Um romântico incurável que merece sarjeta. Que merece uma sala acolchoada de hospício babando torazina. Apenas repulsa só de pensar em beijar-me, acariciar-me, consolar-me. Seu lindo sorriso ficou para trás. Agora restaram apenas escombros. Nem vou me preocupar em lamber as feridas. Elas que façam o que quiserem e se infeccionar foram por culpa única e exclusivamente minha. Não me apoio em justificações. De início para você – talvez –tenha sido excitante e divertido conhecer um “escritor maldito”. Só que quando se olha de perto esse espécime se vê claramente a doença, a drogadicção, a degeneração de todos os sentidos para que eu possa e escreva sem subestimar a inteligência do leitor e isso só se faz sendo-se você mesmo. E nem estou dizendo que você é trágica ou apenas uma farsa. Você é uma das pessoas mais autênticas que conheço na arte de fazer o que bem quer e da forma que quer. Apenas esquece que ainda não tem a maturidade espiritual e longeva para isso e nem possui a humildade de sacar de os seus semelhantes também podem ter sentimentos. E que os mesmo podem nutrir por você. Não, na verdade você não quer a nobreza. Quer continuar rodeada de “telletubbies” movidos à cocaína e falsidade nesse mundo de mentira. O underground não é bonito e nem glamorosos e a metáfora de “bares esfumaçados” nada mais que uma vaga lembrança e uma relíquia mofada do fundo do baú. Pena que os “anos loucos” se foram na virada da década de 90 e o que restou foi apenas um arremedo patético de alguma “cena” ou pior ainda, a justificativa para se perpetrar “prazeres artificiais” sem nenhum objetivo prático ou criativo e sim como simples fuga de uma irrealidade. Adoro pinçar palavras e colocá-las no papel ou onde quer que vá e prometo solenemente que está é a última vez que dedico algo a você. Na verdade nem sei quem é você. Você é muitos “vocês” e confesso que tenho medo de alguns deles e de outros sinto apenas uma vaga irritação. Não sei por que fui gostar de você. Nem o meu tipo você faz! Gosto de garotas com cara de atriz pornô da década de 80. E isso não descreve você.

Um cigarro. Não vou beber para me matar. Apenas bebo para mitigar a dor do parto que emana diretamente do meu âmago e que todas as doses do Bourbon do mundo só servem para levar a outras. Nunca usei drogas para me esconder e sim como aprendizado. O que simplesmente não se aplica a você. Você precisa prazer imediato, de satisfação garantida ou apenas de fluoxetina. Você precisa de alguém que trate com desdém, sarcasmo, rancor & mentiras abençoadas. Não da minha sinceridade, do meu carinho, da minha dedicação, do meu querer sem receber nada em troca. Você precisa de um garoto mimado que lhe faça sucumbir a todas as suas manhas artimanhas. Não, você nunca quis um homem. Suas lágrimas preferem um frio travesseiro a um ombro atento. Você precisa de todo o sexo e de nenhum amor. Você precisa pensar obsessivamente que o mundo é mal e escroto do que agir em termos práticos. Você precisar sempre colocar mais lenha na fogueira de suas próprias vaidades.

E eu achando que estava lhe fazendo algum bem! Mas que pobre diabo eu sou mesmo! Nem posso me culpar por isso. É essa eterna mania que tenho de achar que “desta vez vai ser diferente, que ela é a pessoa diferente”. Não aprendo porque no fundo não quero aprender.

Claro que eu sabia que tinha muita gente invejosa de ambos os sexos cobiçando você da forma mais vil que se possa conceber. Só que ao teu lado eu me preocupava em sorrir para você, falar com você, e fitar teus olhos e assim eu esquecia o que se passava ao nosso redor. Só que você é meio dispersiva, não? Não. Você é astuta. E eu nem me preocupava com isso. Nem me preocupava que poderia ter minhas bolas arrancadas num piscar de olhos. Não me preocupava que minha vida poderia ficar de ponta cabeça. Não me preocupava nem ao menos com minha reputação de poeta. Eu queria renascer ao teu lado. Queria voltar aos meus 18 anos. Queria escrever e tocar com toda minha emoção. E agora estou aqui redigindo minha primeira e última carta de adeus.

Tenho-lhe hoje perdão & misericórdia. Que nada tem haver com compaixão.

E ficamos por aqui.

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 05/07/2011
Código do texto: T3076750
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