Carta ao filho que não consegui beijar.

Foi muito celebrada a notícia do início de sua existência, primeiramente eu e a mamãe, depois sua tia, sua avó e seu avo materno, seu tio, seus irmãos, seus avós paternos, suas tias paternas e, logo em pouco tempo os amigos. Todos estavam muito felizes aguardando com ansiedade sua chegada. Como você seria! Homem? Mulher? ... Para nós não importava, queríamos e passamos a sonhar com você, apenas você, de qualquer forma seria muito festejada sua chegada.

Fomos te ver pela primeira vez, nossa!!! Meus olhos se encheram de lágrimas, lágrimas de emoção por ti ver tão saltitante parecia acenar com as mãozinhas como se nos cumprimentando. Começamos a preparar seu quartinho, encomendamos tudo da melhor qualidade. Juntamente com os móveis do seu quarto também mandamos fazer os móveis para o computador, isso mesmo, íamos dividir o espaço e eu já sonhava com você querendo mexer em tudo, às vezes até ria pensando em suas travessuras.

Mudamos de médico, pois queríamos que você fosse bem recebido, nascesse nas mãos de um profissional mais carinhoso. Já tínhamos escolhido o hospital onde você ia nascer, não era um hospital luxuoso mais era muito simpático, cheguei a pensar no dia em que eu fosse sair com você do hospital. O seu novo médico pediu um novo exame através do qual íamos lhe ver novamente, a partir daquele momento ficamos mais ansiosos, agora saberíamos mais detalhes de você, mais os detalhes eram apenas detalhes, queria ver seu rostinho, seu corpinho, rezava para que tudo fosse perfeito. Ficamos muito ansiosos todos os dias até que chegou o grande dia, parecia que tudo estava dando errado naquele dia. Não conseguíamos encontrar a clinica, não sabíamos ao certo o nome da rua, o número nem tampouco o nome da clínica, a ansiedade e os contratempos nos levaram ao stress quase que total, mas, enfim encontramos o local. A mamãe fez os procedimentos administrativos e ficamos ali na sala aguardando nossa vez. Íamos gravar em DVD suas imagens, já pensava em fazer umas cópias para dar para nossa família e, lógico, guardar uma para que você se visse no útero da mamãe. A atendente nos chamou, senti um friozinho na espinha, esse nosso encontro seria muito importante e jamais sairia de minha mente; como jamais sairá, infelizmente, não como eu esperava. A mamãe deitou na maca e eu me acomodei em uma cadeira ao lado, me sentia em uma seção de cinema aguardando a estréia daquele lindo e inesquecível filme. Procurei a melhor posição para te ver, a médica ligou os equipamentos e começou nosso drama, você não aparecia, aqueles movimentos de antes não se repetia, sua coluna estava curvada e sua cabecinha debruçada sobre seu corpinho como um guerreiro abatido. Não ouvia aqueles batimentos cardíacos que me impressionaram pelo vigor e, enfim, veio a triste notícia de que você não viria mais. Preferiu ficar no conforto do útero da mamãe, com certeza você seria especial demais para este mundo tão violento, tão incerto e onde o desamor a cada dia aflora com mais intensidade. Sua importância ficará para sempre marcada em todos nós, tenha a certeza de que, apesar de não haver chegado entre nós, você foi motivo de muitas alegrias, de muitos planos, enfim, apenas sentimentos de Amor foram nutridos por você. Aquelas roupinhas que sua vovó confeccionou com tanto carinho, certamente serão usadas por outra criança, mais você será sempre especial e insubstituível.

Um beijo do Papai.

Francisco Brito
Enviado por Francisco Brito em 21/12/2006
Reeditado em 04/01/2007
Código do texto: T323933