AMENIDADES PARA TOLOS E HIPÓCRITAS

AMENIDADES PARA TOLOS E HIPÓCRITAS

Quem hoje lhes escreve é um professor exemplar. Exemplo de falhas, erros, enganos e outros sinônimos que puderem pensar. Sou falastrão, boca suja, passional, desorganizado, um ícone para não ser seguido. Sou tudo isso e mais.

Querem que eu diga? Eu digo: sou um mal exemplo. Carregado de preconceitos, rancores da classe média falida, perdulário, impaciente... Sou tudo isso e mais. É fácil me desacreditar, forneço a munição, e ela é farta.

Há quem me olhe e indague: como pode ser professor? Bom, pelo menos quando me vejo no espelho e penso sobre minhas práticas é o que penso. Se eu penso, é justo que outros também tenham este direito.

Imagino que por hora, devem estar achando que estou realizando um mea culpa nessa modorrenta confissão de maus hábitos. Mas digo a todos que tiveram paciência de chegar até aqui em sua leitura, que a única culpa que carrego é de por vezes não ser um pai mais atencioso para meus filhos, porque de resto muito me orgulho de quem e do que sou.

Ademais, tenho enorme satisfação em cultivar cada um dos meus defeitos, pois é graças a eles que sou reconhecido pelo que faço, se não fosse por eles estaria na média de todos os demais, seria portanto, um medíocre.

Prefiro ser um gigante em meus erros a um anão em minhas virtudes, prefiro ser um super-vilão que um herói de quinta.

Tendo chegado até aqui, advogando minhas mazelas, cumpre então observar que entre minhas vilanias mais baixas esta a lealdade para com aqueles que como eu se insurgem contra a tirania da rotina, da mesmice, do politicamente correto pedagógico (e outros “politicamente corretos”), da sensatez improdutiva, do silêncio opressivo, da anuência burra e do pensamento retilínio. Entre minhas assombrosas perfídias esta acreditar que o torto, o diferente, o malcriado, o abobado, tudo que é anti-convencional e engorda, sairão vitoriosos.

Mas essa monstruosa qualidade, a crença, esta fraquejando, e por isso peço desculpas àqueles que ao meu lado combatem. Nunca fui Leônidas, nem mesmo um de seus capitães, sou um simplório soldado. Temos muitos Leônidas entre nossas lideranças, mas não eu. Estou cansado de combater à sombra. Estou ferido. Não sei se agüento mais lutar, proteger os meus compatriotas de armas.

Mas tranqüilizem-se, pois se tombar, tombo leal a cada um de vocês, sem repor de maneira mentirosa as aulas, sem aceitar dinheiro de colegas que estão sem receber e sem pagar suas contas, sem defender um governo mentiroso, sem balançar cordialmente a cabeça para quem foi atacado enquanto defendia o interesse de todos como se nada tivesse acontecido, sem a hipocrisia do “agora acabou, voltemos a rotina”. Tombo com a flecha da traição fincada em meu coração, e sangro, melodramaticamente, até exalar meu último defeito.

Carlos Eduardo Von Doellinger Manhães