Lavando o Céu

Escapar ao senso comum sempre foi meu desejo.

Observar o firmamento no horizonte do mar era quase atuar nos sonhos.

Ela então chegou num momento em que a auto-crítica se tornava mais evidente. Eu não queria me tornar visível e junto dela isso seria impossível. Parei de olhar o céu . Só ansiava pela chuva.

O dragão dos hormônios se tornou bravio. O rosto dela em minha lembrança perdia foco e por instantes eu a esquecia todos os dias. Mas a roda do tempo a colocou em meus braços numa promessa de nunca mais fugir. Em vida, nessa vida? Acho que não mais...

Tudo bem para meio século de vida. O céu que eu andava precisa de descanso. A chuva lava o éter e minhas lembranças ...

Ela? Ela recorre aos métodos mais exatos e devastadores para no vestido amarelo da dança inesquecível, sabotar meus dias de exílio, sorrindo tal qual Gioconda. Ininterpretável.

Vou sair aí pelo mar raso e deixar meus passos marcar a areia que perde peso na cintura da minha ampulheta intransferível .

Marcos Palma
Enviado por Marcos Palma em 27/12/2011
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