Minha grande Irmã.

8 dias.

Hoje completou oito dias, que, minha irmã viajou.

Ela viajou para a Irlanda, foi caminhar por entre as montanhas de árvores de folhas verdes, cheias de vida. Seis dias antes de ir, no domingo, ela me disse:

-Eu vou, mais me espera que daqui um pouco eu chego.

-Tudo bem. Respondi. Só não sabia que aquela, era a última vez que eu fecharia o portão pra ela. Então ela foi. Pela madrugada, ela voltou. Mas não fui eu quem abri o portão. Eu nem mesmo sabia que ela viria buscar seu filho menor para levar para casa. E levou. Daí então ela só retornou na sexta-feira, para levar bombons a nossa mãe, e para a minha sobrinha uma boneca. Deixou sua filha encostada a mais velha lá em casa, e foi.

E disse pra minha outra irmã:

-Eu vou, mais daqui um pouco eu volto.

Ela saiu na moto, uma de suas paixões.

-Tudo bem, respondeu.

E minha mãe ficou a esperar. Nada.

Minha mãe dormiu, ela não chegou.

Pela madrugada, havia alguém chamando no portão, mas não era a minha irmã, a que saiu. E sim o seu esposo, junto com seus filhos e a minha outra irmã, todos de olhos molhados. Eu mal que dormi naquela noite, porque estava com o sono partido.

-Ela não resistiu.

-O quê?

-Ela não resistiu, foi fatal.

Eu ainda estava dormindo, quando fui bruscamente acordada pela minha irmã, que estava atordoada ainda e me disse:

-ACORDA, ELA MORREU.

Choque. Impacto. Grito. Pensei:

-Ela fechou os olhos, e não se despediu de mim? Isto é uma brincadeira.

Me faltou o ar, quando eu olhei no rosto dos meus sobrinhos.

Gritos e mais gritos a chamar o seu nome. Nada adiantava. Ela não estava mais ali. Tentei por um instante fechar os olhos, para conseguir enxergá-la em minha mente. Falha. Nada adiantava, nada adiantava.

Ela foi embora, fazendo o que gostava, e com quem amava. Ela salvou a vida dele, amortecendo a sua queda.

-Foi culpa dele! Gritei.

Ela estava mais uma vez a aventurar, em uma de suas loucas loucuras... Era insana às vezes, mais vivia a vida sem medo do amanhã como podia.

Resolveu acelerar a moto e testar os seus limites. Aquela que o nome me deu estava morta, aquela cujo eu tinha um amor especial, que estava distante ultimamente. Dor, muita dor eu senti e estou sentindo agora. Parece até que eu havia tomado uma anestesia. Não conseguia andar. Só gritar e gritar. Chamei por seu nome, mas ela não me ouvia. Ela não me ouvia. Dor pior foi ter que presenciar os seus cinco filhos ao seu redor, em um cemitério, e saber que nada eu poderia fazer. Já estava feito. Seus olhos brilhavam muito, como se ela ainda estivesse ali. Fiquei junto de seu corpo até onde eu pude. E assim se completou a sua viagem na Terra. Assim você viajou.

Aceitar é difícil, mas Deus está comigo. Só pude me acalmar, quando percebi isso. Me desculpa minha irmã, se eu não te disse que te amava. Sou fechada. Só Deus sabe que, em nenhum momento até agora deixei de pensar em ti. Não tive alternativa a não ser aceitar a sua viagem sem previsão de volta;

Não tive alternativa. Mas eu te amo, e isso nunca mudará.

Sempre seremos cinco irmãs. Sempre.

Minhas saudades serão eternas, e eu espero ainda te ver um dia, para que possamos nos encontrar e conversar.

Estou te esperando voltar, com este sorriso. Juro.

Perlinha
Enviado por Perlinha em 22/07/2012
Reeditado em 02/05/2020
Código do texto: T3790695
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