O Reencontro

Meu amor, meu grande e único amor, ou último, não sei muito bem. Tenho coisas presas dentro de minha garganta, coisas que nem mesma sei como nasceram, como se deram, não sei o início delas, nem o final. Não sei o que me atormenta. Mas antes dessa investigação que me assombra quero dizer que você foi o homem que mais amei. O homem mais perfeito. Aquele mais amoroso, mais companheiro e que, infelizmente ou não ainda, não está sendo mais suficiente para mim. Eu sei que posso me arrepender de tudo que falo, de todas as palavras que rasgam minha garganta, que saltam de meu coração. Eu sei de tudo isso. Não peço sua compreensão, seria demais pedir isso. Apenas me ouça. Mais tarde, quem sabe, quando um novo amor chegar para você, saberá que essa foi a melhor decisão.

Eu sei que você não entenderá como um relacionamento perfeito, como alguém como você que me oferece tanto amor, tanta dedicação, que me faz tantos mimos, e é um exímio homem na hora de amar pode, assim, não ser completo para mim? Como se desprender de seus próprios medos e se doar totalmente e, ainda assim, não ser suficientemente capaz de me manter ao seu lado? Amor, meu querido amor, como gostaria de saber dessa resposta. Como eu gostaria de não ter esse vazio que me apavora durante todas essas madrugadas, como eu gostaria de dizer que sou completamente feliz e que não quero mais nada da vida do que viver somente para você. Amor, eu juro que queria dizer e melhor, sentir tudo isso. Seria tudo tão mais fácil, não é ? Nem eu deixaria esta carta para você. Ohh... Como gostaria de poder apagar dessa minha triste história este momento, estes meus sentimentos, mas amor, meu grande e eterno amor, não posso. Digo-lhe isso com lágrimas nos olhos, não posso maltratar o meu coração mais do que ele vem sofrendo. Ele, meu coração, não aguenta mais.

Eu queria que você tivesse defeitos. Sim. Eu queria que você tivesse defeitos, pois se assim você os tivesse seria imensamente mais fácil para mim. Como sou eu egoísta. Mas esta carta fala de seres humanos verdadeiros e, amor, meu querido amor, os seres humanos também são feios, errantes, inescrupulosos, mesmo sem querer, sendo este meu caso. Por que tomo essa atitude nem eu sei ao certo. O fato é que há tempos tenho planejado, inconscientemente, escapar desses grilhões, mas, covarde como fui ao longo desse tempo, maquiei toda essa verdade, e sendo assim, flagelava meu coração. Amor, não caia em prantos. Não se desespere. Não se reduza a qualquer condição ínfima somente para me ter ao seu lado. Meu amor, meu grande amor, você não merece! Não merece alguém pela metade, logo você que foi tão completo para mim! Então, em nome de tudo que vivemos não me peça para ficar, não agora, não mais!

O recomeço será difícil. Eu sei! Eu sei disso! E você que agora mergulha em sua dor e que nada mais consegue perceber também não vê que sofro, sofro por demais, por querer outro caminho que a vida me joga na cara e este não ser o que vai para seus braços. Amor, o quanto nos amamos, o quanto nos amamos... Sentirei saudades. Mas dentro de mim, não posso calar tantos sentimentos desesperados por liberdade, por novo espaço. E não pense que essa minha ansiedade por liberdade é o desejo desvairado por outros corpos, não amor, você sabe que não. É aquele desejo que nasce quando a gente simplesmente quer viver um novo e grande amor e aquele em que vivíamos, infelizmente, havia virado apenas uma bela amizade e, não percebemos, ou melhor, não nos apercebemos vivendo um amor fraternal com o brinde de ter sexo.

Não olhe para mim de tal jeito, não me faça sentir pior do que já estou me sentindo, tente deixar as coisas amenas tanto para você quanto para mim.

Não me pergunte se estou amando novamente, isso fará você sofrer ainda mais. Atenha-se a nós, não aos outros. Amor, meu querido e grande amor, todo fim de relacionamento é assim mesmo, um fica com o coração dilacerado e o outro, mesmo querendo ter asas, no fundo, sente-se culpado. Eu não sei explicar por que o amor, mesmo sendo tão lindo faz isso com as pessoas, faz isso conosco. Esses momentos não deveriam ser o nossos, esse retrato preto e branco que tiro não deveria ser o nosso. Estamos em um quadro com moldura ruim e paisagem triste, mas é chegado o momento em que a vida nos chama para tirar novas fotos, pintar novos quadros, construir novas molduras. Meu amor, meu grande amor, nós não temos escolhas, não temos o que fazer, precisamos nos atirar a essa nova moldura, é a vida que nos chama. Não há como escapar. Eu sei que todas essas minhas prolixas palavras tentam explicar o inexplicável, todas elas tentam me desculpar, tentam me fazer um ser humano menos horrível diante do que faço, diante de não poder mais compartilhar os mesmos sentimentos e sensações que você tem ao estar do meu lado, eu, ser humano tão horrível, procuro perdão, ao menos, o meu próprio.

Estou chegando ao fim dizendo que isso tudo é porque preciso fazer uma releitura de minha vida, do que realmente quero daqui pra frente, de quais sonhos quero conquistar, de quais lugares que quero desbravar. Quero me atirar na vida, experimentar novos sabores. Meu amor, meu querido e grande amor, não se preocupe comigo. Eu sei me cuidar. Não pense que vou me atirar a qualquer braço ou abraço. Eu quero um novo amor já que em mim, a você tenho uma grande, uma transcendental amizade.

Quero ir para aquele apartamento pequeno do qual tanto falei ! Sim. Aquele com quase nenhum móvel. Apenas um computador, uma mesa e jarro de flor. No quarto, uma cama e finos lençóis. Almoçar sozinha. Dormir tarde. Ler aquele livro. Comer aquela pipoca e tomar aquele refrigerante assistindo a um filme romântico durante um sábado à noite. Vestindo aquela camisola rosa de algodão com uma figura infantil e com seios livres de amarrações. Quero poucas coisas. Mas elas são tão importantes pra mim! Perdoe-me por ser egoísta, mas, como eu já disse, meu amor, meu grande amor, os seres humanos são feios.

No domingo, vou ao parque, sozinha. Vou sentar no banco e pensar. Escutar os pássaros cantar, as folhas caírem. Vou usar aquela calça e moletom que eu tanto odiava por que eu achava que ambos me deixavam gorda. Meu amor, como eu era boba( Risos). Hoje gosto deles. Acredita que acho que a calça me deixa até mais sensual?! O caimento do tecido se faz perfeito. Eu fico com o bumbum desenhado! ( Risos). Não sei por que não vi isso antes. Sabe aquele café forte e descafeinado sem açúcar, aquele que você detesta? Amor, eu vou me acabar nele! Vê, amor, são coisas simples, muito simples, mas são minhas, tão-somente minhas, das quais sentia muita falta.

Amor, meu grande amor, aquele que foi o maior, o único, o perfeito, parto em Setembro. Era apenas isso.

Eliane Vale
Enviado por Eliane Vale em 30/07/2012
Reeditado em 17/02/2013
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