Anti Cupido

Ao: Anti Cupido

Olha, começo aqui indignado seu antiquado, esta carta é para todos os amores perdidos, tudo que se esconde no Guarda Roupa, como um velho casaco que não usamos a muitos anos, você faz ele mofar, o verde abacate velho e podre fica impregnado, pudera, desde aquele dia do século passado, parece que quer me perseguir, quer arrancar meu couro, me deixe simplesmente só, comigo mesmo, não com o amor que eu amei, e sim com o que ainda amo, mas você é anti, antiético, naquele dia ensolarado fizeste me passar uma tremenda vergonha, adulterou meu pensamento, uma fraude veio a tona, não pude conviver com quem eu queria, foi sua alegria maior, fiquei inconformado.

Aquela morena que se encaixaria em qualquer melodia de Ipanema, ou mesmo do sol que nasce mais cedo é minha musa inspiradora, porém meu barco afundou, de tudo eu fiz, o motor parou de funcionar, cadê a boia ? Não sei nadar, e agora ? Fosse cruel e sanguinário, jogou um pneu com agulhas parecendo um ritual de bruxa, ele esvaziou, eu afundei, mergulho de lágrimas com águas salgadas e límpidas, parecem ter sido jorradas por algum irmão, colocaste lança perfume na bebida dessa musa do Sol ?

Não sei ao certo, mas esta insignificante carta, pelo menos sei que pensa assim, para mim é um desabafo, é o preço de ter confiado tanto em ti, tive de partir, onde foi parar minha última chance ? Será que fui dado demais ? Arrumei e limpei, flores eu a dei, mas ela continua ali me esnobando, o Cupido foi atingido, desta vez não foi o flechador, agora foi bala de verdade, a bala que veio das periferias, a bala que não matou Lennon, mas enterrou quase de uma vez um coração que pulsava amor, ainda me restou dizer as últimas palavras para ele, "meu amigo Cupido, eu não me vingarei do Anti, espero um dia ele me procurar, afinal, aprendi que a vingança é o revés do amor, e te digo, pode ir embora, ela vai voltar, você foi cedo demais, mas em ambos os casos, o amor vive eternamente".