Estávamos em férias ... continuação 23a. carta "Enfim, um banho de chuveiro!" x "Visão de um médico"

Era um domingo e pela primeira vez tinha sido autorizado levar o Róger para tomar banho de chuveiro. A gente estava na maior expectativa, queríamos ver se ele teria alguma reação. Meu marido tinha mandado fazer uma cadeira de fio com rodinhas e com largura e altura proporcional ao tamanho do nosso gurizão.

Já estava dentro do banheiro com o pai, acompanhados da técnica de enfermagem quando chegou um médico para a visita diária. Ele se apresentou como da equipe, mas que não estava acompanhando diretamente o Róger. Eu disse que o conhecia, pois ele tinha tratado do meu avô, muitos anos antes.

A porta do banheiro estava aberta e eu mostrei, feliz, que era o primeiro banho no hospital, depois de meses só tomando banho no leito.

Confirmou se eu era a mãe do paciente e começou a falar sobre a gravidade da situação do meu filho. Eu olhei para ele, meio sem entender, pois a gente sempre soube da gravidade do acidente. E ele continuou a falar que tinha olhado os exames e que a situação era muiiiittttooo ruuiiimm. Sacudindo a cabeça negativamente, continuou a falar. Eu só olhava para ele, incrédula, frente ao tamanho pessimismo que se desenrolava. Falou-me que o cérebro do meu filho estava muito afetado, tanto que podia ser comparado com um velho de mais de 60 anos. E argumentava: “o que velho consegue fazer? Poucas coisas, né? É assim que seu filho está e vai ficar.” Levantei meus olhos para o céu e pedi a Deus: “não deixa, Senhor”, “não permite, Senhor”.

Mal podia acreditar que um médico, que nem estava tratando do meu filho, que era conhecido na cidade, filho de médico, ambos haviam tratado de meu avô, e antes parecia outro homem, era mais jovem, claro, mas era mais humano, mais sensível. O que teria acontecido com esse ser humano, para ele se tornar tão duro?

Tive vontade de desabar na hora, acabar-me em lágrimas, mas apenas olhava para o médico, direcionando suas palavras para que entrassem por um ouvido e saíssem, correndo, pelo outro. Continuava orando silenciosamente “não permite, meu Jesus! Oh meu Deus, socorrei-nos”!

O dia passou e eu estava tristonha. No final do dia chamei meus dois filhos e meu marido e contei-lhes o ocorrido. Lágrimas desciam sem parar. Novamente os meninos me chamaram a razão e traziam argumentos para me acalmar. Primeiro, da falta de postura humana do médico. Depois, dos conceitos da neuroplasticidade. Lembraram também, da orientação do médico neurologista de SP que nos explicou sobre a necessidade de esperar pelo menos dois anos para que algum prognóstico começasse a ser feito, que antes disso nada poderia ser afirmado. Nem positiva nem negativamente a respeito de quaisquer seqüelas.

Por fim, passou. Veio a outra semana. Comentei com o médico neurologista responsável pelo meu filho. Acredito que eles tenham conversado, pois recebemos a visita de outro médico da mesma equipe, com outra postura, mais próxima dos conceitos acima.

Rosa Destefani
Enviado por Rosa Destefani em 10/10/2012
Reeditado em 31/10/2012
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