AS ALMAS SABEM...

Miles Davis sopra “Stella by Starling

Os luminosos se afunilam no final da avenida.

Um blues cantado da janela no sobrado.

Os cães ladram longe, e ela espreguiça-se no leito, linda!

Mal sabe que o poeta a caça, de desejos embriagado.

Dança uma canção propiciatória sozinho na noite distante

Evoca na melodia os requebros da alma desejada,

Envolve-a em versos com o sonho doído do amante.

E abraça-a em seu devaneio louco, lívido, coração pulsante.

Quando termina de dançar arranca os versos do chão

Caminha pelas ruas de pedras escorregadias, só, mão no bolso,

E essa vontade quase forte que lhe trava a garganta

A abertura dos desejos diante das possibilidades do coração

Desmedido, inesgotável, embriagante, profundo como um poço

Faz nu o poeta que ergue sua lança banhada de amor ao que lhe encanta.

Dois caminhos à frente: E ele escolheu o ínfimo de dentro

Onde as almas se encontram e só elas sabem...

As almas sabem.