CARTA DE UM SOLDADO (1945)

Aos nacionalistas de plantão, escrevo esta carta diretamente do campo Jay (na carta explico porque demos este nome). Já estou aqui há mais de sessenta dias, e não sei quando tudo terá fim. Entrei no campo em 1944, e não sei ainda, ao certo, o objetivo de escrever estes relatos, mas fiquem informados da minha situação e do meu sentimento. Quem sabe esta carta não seja lida após muitas gerações?

Caminhei ferido pelo campo, observando os pedaços de gente que estavam caídos. Em alguns, os vermes já estavam brotando. Em outros, a ferida exposta ainda estava com sangue fresco. Outros, ao ver, quase vomitei. Fiquei apensar no porque estava ali. Estava lutando pelo meu país ou pelo Rei Jorge VI? Tentei estancar o sangue do meu braço, mas ele já havia vazado a camisa. Estive em choque por uns três dias, mas agora já estou recuperado... mas perdido. Isto se tornou uma luta de sobrevivência, não sei se conseguiremos sair vivos daqui.

Meu pelotão avança destemido, derrubando todo oponente que se levanta para nos parar. E eu, fico atrás, só observando o mundo ao derredor, sem poder sair do lugar. Tenho medo de morrer e nunca mais poder ver minha família querida, tenho medo de voltar para casa aleijado, como o Ewan, que pisou em uma granada (e daí imaginam como ele ficou). Em breve conquistaremos a Alemanha... pelo menos é o que dizem. Preciso enfrentar a dor no braço, para não levar um tiro, embora a arma tenha se tornado muito pesada e a ferida esteja ficando feia. Toby, nosso general, disse que amanhã a ajuda irá chegar, ma eu não acredito muito nisso.

Tenho que apagar a vela, para não chamar mais a atenção. Alguns soldados dormem, mas eu não consigo descansar. A ultima vez que tentei, o pelotão foi atacado e tivemos mais de cinquenta perdas. Desde então, o sono já não é meu aliado. Espero que vocês leiam esta carta para minha mãe e para meu pai, também para meu filho Erik e para minha pequena Charlotte, que a esta hora já deve ter nascido.

Se eu vos escrever novamente, é porque sobrevivi. Se não, Jay irá se casar com a Ruby. Já falei para ele, antes de voltar para casa, ferido e quase sem poder andar. Mas eu acredito que ele ficará bem... só não acredito que vou voltar para casa vivo.

Atenciosamente, Alexander Loydh, diretamente do campo Jay. Alemanha, 1944.

Anita Ferraz
Enviado por Anita Ferraz em 06/02/2013
Código do texto: T4126199
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.