Carta de Despedida

Tentarei ser breve. Assim como muitos dirão que minha vida foi, apesar de eu, que a "vivi" por quase vinte e cinco anos, discordar veementemente. Como pode ser considerada breve uma vida preenchida apenas pela dor, pela solidão, pela tristeza e por arrependimentos? Bem, talvez os arrependimentos não devam entrar nessa lista, já que o meu maior arrependimento é ter nascido, e isso não foi culpa minha.

Eu olho para o passado e, em meio à escuridão, somente alguns traços de sangue que derramei, misturados às lágrimas causadas pela falta de se ter companhia ao longo do caminho. Falta de amor? Falta de alguém? Falta de motivos pra viver? Sim, são fatos a serem relevados e que culminaram nesta minha decisão. Todos devem se apegar a motivos e sonhos, razões pelas quais manter-se vivo é essencial. Mas e quando se tem mais razões para morrer do que para viver, então não há mais nada a ser feito, a não ser curar a dor que o coração implora para cessar.

Se você está com dor de cabeça, procura um analgésico. Afinal, a dor precisa ser interrompida, ninguém gosta de viver com algo que lhe incomoda. E quando a "dor" é a própria vida? Qual a cura para a dor do existir? Deixar de existir. Deixar de viver. Abdicar da presença neste mundo tão mau e cruel.

Sim, serei julgado, apedrejado e maldito por aqueles que tentaram me convencer de que existe, neste planeta, razões para viver. O que não posso fazer é que todos entendam o vazio que existe em mim. Como se dentro de mim mesmo houvesse um túmulo para ser fechado. Então, quando eu estiver dentro do meu, ambos os buracos se fecharão.

Não, amar não me levou a nada. Nada além do meu fim. Admito, eu amei, amei de verdade. Mas não fui amado. Nem uma única vez. Nunca signifiquei nada para pessoa alguma, minha importância aqui na Terra se restringe a ser apenas uma engrenagem numa máquina trabalhadora que não vai parar quando eu desaparecer. Ninguém é insubstituível. A menos que se trate de sentimentos. Mas, como, nesse caso, minha significância pode ser considerada "insignificante", então, simplesmente, será melhor para mim estar sob todos vocês.

Apesar disso, é de conhecimento quase geral que eu gostaria de ser cremado. Acho um enorme desperdício de terra ser enterrado. Enfim... Não espero que me entendam. Não mesmo. Isso não pode ser entendido, compreendido, por quem vê na vida o brilho, a alegria, a luz que eu não enxerguei. Na verdade enxerguei, em alguns olhares que conheci e que, no final, acabaram me jogando no buraco da solidão. A essas pessoas, cujos nomes começam, especialmente, com as letras "D" e "L", deixo registrado o quanto as amei. Estranho, inclusive, que as letras possam representar a frase "Down Low" (Lá Embaixo), que é o lugar onde vocês me deixaram. Não, eu não as culpo. Como posso culpar quem eu amei? A culpa foi minha. Sorte de vocês, que encontraram na vida tudo que eu sempre procurei: alguém para se ter ao lado, alguém com quem dividir os sonhos, os anseios e as dúvidas.

Os poemas que escrevi para vocês permanecerão aqui no Recanto. Quando a você "L", caso esteja lendo isto, mas duvido que esteja, ainda estão aqui em casa coisas que lhe pertencem. Presentes que nunca lhe dei, o livro que você me emprestou... E o meu coração que, em breve, cessará sua batida.

Deixo, especialmente, meus mais sinceros agradecimentos à única pessoa que tentou me entender por anos (e infelizmente não conseguiu... Mas pudera, sua felicidade é importante demais para ser deixada de lado para tentar entender a vida infeliz deste ser insignificante). Sil, você foi a pessoa que me manteve vivo por três anos, esses três anos mais difíceis da minha vida. Apesar de você ser de outra cidade e nunca termos nos visto, ouvir sua voz pelo telefone e chorar contigo nas madrugadas me aliviava todo (ou quase todo) o peso que o mundo derrubava sobre mim. A promessa que lhe fiz, sobre as minhas coisas que eu deixaria para você, ao partir, permanecem. E sinta-se à vontade para juntar os poemas meus que você mais gosta e, se quiser, publicar um livro póstumo.

Também agradeço à minha colega de trabalho, Cristina, por ter me acolhido e feito eu me sentir em casa ao conversar contigo. Lembrando, muitas vezes, o modo como eu e minha avó (a pessoa mais especial que já viveu neste mundo) conversávamos. Minha avó partiu alguns meses após nos conhecermos, como bem sabe.

Essas pessoas me ajudaram a permanecer vivo por mais algum tempo. Mas eu sinto que não mais é possível. Me sinto velho. Me sinto abatido. Derrotado, caído, enfim, morto em vida. Viver tem me feito mal e todos sabem disso. Perdoem-me por tudo. Eu poderia ter impedido toda essa tristeza, essa dor, essa solidão, se tivesse agido antes. Mas não mais tardarei a agir. Chega de deixar o fim para depois. O fim já chegou, à espera apenas da conclusão.

E assim se conclui esta história, que, por razões desconhecidas, durou tempo demais. O futuro me reserva apenas mais e mais dor. A cada dia, sou mais torturado pela vida, pela solidão, pelo vazio. Pela falta de amor, pela falta de um motivo para viver. Perdoem-me, se for possível.

Adeus.

Edimar Bueno da Silva

10/03/2012

15:20h

Edimar Silva
Enviado por Edimar Silva em 10/03/2013
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