Outra carta

"Estou zonza..."

- Está zonza! Acudam!

Todos correram como loucos por acudir a menina. Caída ao chão, uma carta na mão. Se preparava para responder, quando a visão foi-se embora. O que eles não sabiam era que o que se passava por sua mente a deixava tão feliz que não importava que estivesse tonta. Tentavam acordá-la, animá-la. Mas ninguém lhe podia tirar tudo o que sentia em silêncio. Um misto de amor e dor; raiva e incompreensão; perdão e carência; e porém, acima de tudo, uma felicidade que há muito tempo não se sentia.

***

"Estou zonza. Estou caindo, mas de sorrisos inexplicáveis. Eu sei que não deveria sentir essas coisas. Tenho muitas satisfações a dar, mas... É inevitável. Eu pensava que superaria. Em vão. O amor que um dia nasceu comigo, e contigo, jamais morrerá dentro de mim. Meu medo era que estivéssemos mergulhados no esquecimento. Que não se importasse mais se um dia fui apenas boa companhia ou algo importante. Estava claro que estavas confuso, eu também estava. Tivemos medo, tivemos receios. Não fomos corajosos o suficiente, nem antes, durante ou depois. E o que mais me dói é o 'depois'. Depois de ti, o que eu consegui foi apenas enganar-me. Houve (e há) outros moços em meus braços, mas nenhum me fez (ou faz) sentir o que eu sentia por ti sem nem ao menos te conhecer. Eu sorria aos outros para que não me perguntassem qual era o problema. Mas por dentro, só existia sua presença, sua voz. Estou confusa, me adaptei a uma rotina. O que mais quero hoje é fugir dos compromissos e ir atrás de ti! Eu não quero machucar ninguém. Até aprendi a viver triste mas deixando os outros felizes, me acostumei. E, sozinha, não tenho coragem de ir embora. Teu nome vem à minha mente na hora de dormir. Mas tua voz vem se apagando a cada dia e isso me sufoca! Quero lembrar-me dos teus dizeres e das manhas da tua voz que tanto me acanhavam. Não quero mais chorar ao lembrar do pouco que te senti. E não gosto de pensar no antigo 'E se...'. Desisti de querer voltar no tempo, desisti de chamar tua atenção. Hoje sou frágil, me quebro fácil. Mas ainda consigo dizer que eu te amo."

A menina acordou nos braços da mãe. Uma lágrima beijava-lhe a face. Um sorriso se formava. O alívio da família foi evidente.

- Nos deu um susto!

***

Mais tarde em seu quarto, agora sozinha, ela escrevia os últimos versos de sua resposta àquela carta que lhe havia desconcertado naquela manhã.

"...eu te amo."

Apesar de tudo parecer óbvio, ela preferia o mistério da poesia nas palavras.

sousaluls
Enviado por sousaluls em 14/06/2013
Reeditado em 16/06/2013
Código do texto: T4341157
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.