" o verdadeiro amor é como a tiririca, não se mata com qualquer veneno"

Osasco, 10 de Abril de 2007

Prezada irmã

Saudações:

Desculpe-me pela demora para enviar-te teus documentos, mas estou passando por momentos difíceis. A Elaine foi para Araçatuba, não falou-me que ia e de quebra levou a Rebeca ,sem despedir-se de mim. Hoje fazem quarenta e três dias que se quer ouço o choramingar dela.Tento de todas as formas ser forte, deixar isto pra lá, e seguir a minha vida, mas está difícil; a paulada foi para matar-me , mas como não conseguiu , deixou-me aleijado até o presente momento. A pancada foi certeira e direcionada ; atingiu dois órgãos vitais: minha mente e meu coração, deixando-me meio abobalhado. Não me vejo mais de confiança, nem mesmo confio em mim.

Preciso e faço planos para viajar ,sair para qualquer lugar, mas me falta ânimo para qualquer coisa. Tenho sono, durmo, mas acordo como não tivesse dormido; moído. Está difícil suportar esta dor; nunca chorei tanto, nunca sofri tanto, nunca derramei tantas lagrimas...A Rebeca era meu brinquedo, minha boneca, minha paixão, era meu consolo, era a divisão entre eu e meus atritos. As vezes me pegava raivoso e um seu olhar , me desmoronava; lavava minha alma, me enchia de paz...

Ela é dócil, amável, linda... Procuro esquecê-la, mas o verdadeiro amor tem raízes profundas tal qual a tiririca, não se mata com qualquer veneno. Fiquei mais de três anos ao lado dela, de dia e de noite eu estava ali, sentindo seu cheiro, seu choro, sentindo sua fome, ouvindo e sentindo seu respirar, sentindo seu gosto, amando-a loucamente.

De repente, levaram-na de mim,sem qualquer respeito, sem consideração; às brutas.

Não houve quem olhasse para meus bons feitos, somente pesaram com balança enganosa, meus defeitos, crucificaram-me com cravos cruéis da vingança; vingança envenenada, que não mata de imediato, mas aniquila, desafeiçoa, destruindo aos poucos o corpo, a alma e o espírito.

Lançaram todos estes meus bons feitos, num charco de esgoto putrefado; como não bastasse, usurpam de mim o direito de ouvir a voz de quem amo, zombam quando peço socorro ,escondem –me o remédio que cura minha dor; alimentam-se com a minha desgraça e oferecem –me fel quando estou sedento de amor.

Há um ditado que diz : “quem planta, colhe”, mas nesse ditado , dá-se a entender que quem planta, planta cantando alegremente... e quem colhe, colhe com lagrimas de dor. Mas eu plantei também em lagrimas de sofrimento, de esforço extremo para dar o melhor para minha filha e nesse esforço questionado, desperdicei o tempo e o carinho que eu tinha o dever de oferecer-lhe ; perdi a oportunidade de amá-la a décima parte ou menos do tanto que hoje amo a Rebeca e, quando eu quis amá-la...meu amor foi rejeitado, meu tempo de amar passou. Hoje colho os amargos frutos da solidão e da tristeza, com as costas expostas ao sol causticante , enfrentando chuvas diversas e chuvas de granizo, enfrentado ventos, temporais, e descalço com meus pés entre pedras e espinhos.

Estou tal qual aquela parábola do rico e o pobre: O rico sedento, suplica uma gota de água para aliviar-lhe a sede; suplica, mas não é atendido.

O mundo é implacável:

Quem plantou ontem, colhe hoje; quem colhe hoje, prepara a terra para que outros plantem em seu chão. Ninguém escapa do tempo, tão pouco da sua ação.

É triste, mas é a realidade!

Logo irei ai.

Roosevelt