Vou te dizer algumas coisinhas a meu respeito, que talvez não tenhas ainda percebido, ou eu quem tenha me esquivado de o dizer:

Nem sei porque andei, de novo, me apequenando, saindo de mim, pra me colocar numa vitrine pros teus olhos pagãos me comerem, sem pagar. Eu sou do divino. Não comungo minha hóstia com a tua boca insossa de maria-vai-com-as-outras e é por isso que eu tô caindo fora. Se eu quisesse a companhia de quem não entende do que falo, falaria com os vizinhos, que sempre são bons nisso. Se eu quisesse me vender barato, me lambuzaria do teu açúcar e me colocaria aí, bem ao lado das tuas quinquilharias. Se eu quisesse me inebriar com palavras outras, me inebriaria com as palavras dos grandes. Ah! Não seria com as tuas! Pouco talento por pouco talento, fico com o meu. 

Não me surpreendes a mim, eu é que me surpreendo comigo, que vivo tentando misturar os meus genes com os teus. A cada filhote que nasce desse cruzamento não o reconheço como meu. Hoje decidi me esterilizar dos teus conceitos tão pré-concebidos. E queres saber? O meu júbilo maior será o de saber os teus olhos atônitos, tão habituados aos rasos, lendo e relendo, buscando o teu espelho opaco e eu, já sabendo que não entenderás nada, como sempre, só que pela última vez. É pena não poder ver o teu traseiro se afastando, indo ao encontro dos da tua superfície. Seria uma tão linda visão, essa, da minha libertação!

Desculpa aí, se falo um pouquinho de mim e não o que esperavas que eu dissesse. Desculpa se entornei o meu vinho na tua toalha bordadinha. Hoje resolvi cometer este sacrilégio com ele, mas é por uma boa causa. Brindei com ela e não contigo o contraponto. Brindei a nossa despedida como mereceu a nossa relação, assim, tão emporcalhadinha. Fica aí com as tuas mesmices enquanto eu volto, feliz, para as minhas  alices. 






Esse texto faz parte do Exercícios Criativos do Encanto das Letras.
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