Cartas da Amazônia 13

Eu sofri um acidente trágico que mudou minha vida completamente: perdi uma de minha pernas!!! Perdi a minha perna em um ataque de jacaré, no meio da Amazônia.

Eu nasci na maior cidade do Brasil, São Paulo, e estava fazendo uma pesquisa no coração da maior floresta quando sofri esse acidente drástico.

Desde nova sempre fui apaixonada pela natureza. Enquanto a maioria das crianças tinha medo de insetos, lagartas, besouros, eu não!!! Sempre gostei dos bichos, de todos os tipos. Gostava de todos eles. Eu andava pelo jardim, olhando pras flores, observando as abelhas, joaninhas, borboletas.

Às vezes eu revirava a grama do condomínio em busca de tatuzinhos, caracóis, minhocas ... tudo que se movia e era vivo, não importava a forma, o tamanho, nem a beleza. Sempre fui atraída pela vida selvagem, em todas as suas formas. Assim fui crescendo, em contato com a natureza, valorizando desde cedo a ecologia, o respeito pelas plantas, animais

Quando estava me preparando para o vestibular, não tive dúvidas: iria cursar Biologia e ao me formar iria trabalhar na Amazônia. E, assim aconteceu. Quando tive a primeira oportunidade de estagiar, ainda no sétimo período do curso, lá estava eu indo de mala e cuia para participar de um grupo de pesquisadores na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

A Reserva de Mamirauá é uma das mais importantes Unidades de Conservação do Norte do Brasil. Ela possui uma biodiversidade incrível, com todos os tipos de bichos e plantas. Para lá vão ambientalistas de todos os estados brasileiros e de muitas nações estrangeiras com objetivo de estudar e catalogar as espécies raras que vivem naquele ambiente especial.

Mamirauá possui uma das maiores populações de jacarés da América. E entre as espécies que vivem lá, o que chama mais atenção é o jacaré-açu, que é um dos maiores jacarés do mundo, podendo chegar aos 6 metros de comprimento e mais de ½ tonelada de peso.

Eu sou fascinada por esses grandes répteis, e fui lá justamente para estuda-los. Mas, numa tarde ensolarada, eu estava tomando banho no rio, com o grupo de pesquisadores. E, sem mais nem menos, um jacaré enorme apareceu e me atacou.

O bicho me pegou pela perna e me puxou para o fundo do rio. Meus amigos levaram um baita susto, foi uma correria enorme. Eles saíram gritando da água, num desespero tremendo. Eu não podia fazer nada perante a força descomunal da fera.

O jacaré me sacudiu com força, e arrancou de uma vez só a minha perna esquerda fora. A dor foi horrível, e não sei como, encontrei forças para nadar até a superfície e gritei por ajuda.

Os meus amigos me viram e me socorreram. Quando eles me pegaram, a água já estava toda tingida de vermelho. Eu estava perdendo bastante sangue, e pensei que não fosse sobreviver. Mas, graças a Deus consegui chegar com vida ao hospital mais próximo.

Meus amigos estavam desesperados. A equipe médica também ficou assustada com a tragédia.

Felizmente, consegui superar aquele trauma. Hoje estou usando uma perna mecânica, e já retornei a minha vida rotineira. Ainda estou fazendo fisioterapia, com acompanhamento de um psicólogo, para superar de vez aquelas lembranças tristes.

Isso tudo foi muito esquisito. Uma fatalidade. No entanto, ainda continuo amando a natureza, as plantas, os bichos selvagens ... enfim, o meu desejo de viver entre os bichos, curtindo a natureza de forma saldável não mudou!!!

Eu não culpo o jacaré pelo ataque, pois ele é um animal irracional. Só estava fazendo o que seus instintos mandam. Aquele era o ambiente dele, e eu só representava uma refeição para o bicho. Ele estava com fome e resolveu comer a minha perna. Essa é a lei da selva, um animal se alimenta das presas para sobreviver!!!

Infelizmente, eu estava no lugar errado na hora errada. Mas, o que sou não mudou. Eu continuo amando a natureza, incluindo os jacarés também!!!

São Paulo - SP, 12 de fevereiro de 2014.

Mariana Andrade

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Ilha de Marajó - PA, Fevereiro de 2014.

Giovanni Salera Júnior

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Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 13/02/2014
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