Cartas da Amazônia 15

Querido Missionário,

Não desanime, fique tranquilo e lembre-se que a sua missão é extremamente importante!!! Você tem um chamado de Deus, e deve honrar a sua vocação ministerial.

Não deixe nenhum pensamento ruim tomar conta de seu espírito lutador. Você precisa se lembrar de que a nossa missão de evangelista é fundamental para erradicar o preconceito que as pessoas têm pelos povos indígenas. Portanto, não se deixe contaminar, não perca a fé, sirva ao Senhor com devoção e em breve você irá superar esse período de adaptação.

Nós, com missionários das tribos indígenas, temos uma missão realmente importante na sociedade brasileira. Temos que lutar com toda dedicação por esses nossos irmãos de pele vermelha!!!

A nossa função é ajudar a superar a contradição que existe no sensu comum. A imagem que a mídia capitalista formou na opinião pública é uma pura contradição. Grande parte de nossa sociedade urbana imagina o que os índios devem ser, mas não sabem realmente de fato eles são, pois é na raiz dessa contradição que nascem os preconceitos e o ódio aos povos nativos do Brasil.

Muitas pessoas pensam que pelo fato dos índios gostarem de coca-cola ou por usarem calças jeans e por terem interesse em celulares, tablets e smartphones eles deixam de ser índios. Contudo, não nos espantamos quando crianças gostam de computadores e outros apetrechos tecnológicos. E até mesmo nós que nos orgulhamos de sermos brasileiros adquirimos itens vindos de países capitalistas. Sabemos que esses itens vêm em grande parte dos EUA e da Europa, que dominam e subjugam nosso país com suas ideologias nocivas e trazem misérias ao nosso povo.

A sociedade brasileira precisa saber disso, precisa deixar de vez a discriminação histórica com os povos indígenas.

Nós, como servos de Cristo, devemos desmistificar muitas coisas. Os agropecuaristas dizem: “Muita terra para pouco índio”. Eles falam tais coisas, pois querem roubar o direito que os índios têm de habitar suas terras, que utilizam de forma diferente de nós. Vivemos em um sistema capitalista que valoriza apenas a produção, o lucro, o consumo, a ostentação. No capitalismo americano o cidadão vale pelo quanto tem de dinheiro no bolso. Assim, a terra é vista como sinônimo de poder. Os fazendeiros que tem muitas terras tem poder de influenciar, e podem massacrar, humilhar, pilhar os bens e direitos dos povos indígenas. O capitalismo é um sistema de exclusão e opressão do imperialismo americano.

Acontece que os indígenas são os verdadeiros donos dessas terras. Eles são os primeiros brasileiros. Como Adão e Eva foram os primeiros habitantes do Éden, os índios foram os primeiros habitantes desse paraíso tropical, que até mesmo os colonizadores portugueses e espanhóis reconheceram em suas cartas.

Os índios vivem numa sociedade mais justa e igualitária, daí sua visão diferente da nossa no que diz respeito ao uso da terra. Não que não tenham noção de propriedade e progresso; tanto a conhecem que combatem a invasão do seu território, conhecem detalhadamente as fronteiras de suas reservas, sabem como a palma de suas mãos aonde nascem os rios e córregos. Mas a terra é uma propriedade coletiva, que pertence a todos os indivíduos de maneira igual, sem preferências e privilégios de um sobre o outro. Eles usam a terra para que todos possam sobreviver em a harmonia e igualdade, sem ambições e desrespeitos, o que vai de encontro aos ensinamentos dos Evangelhos, que nas palavras de Cristo tratam de humildade, doação, amor ao próximo.

Não se esqueça dessas coisas, não desanime. Mantenha sua fé forte e inabalável. Continue militando, pois precisamos fortalecer nosso trabalho junto aos indígenas, pois a nossa militância vai além da simples ajuda a esses primeiros brasileiros. Nossa missão é mudar o Brasil, fazendo com que todos respeitem e amem uns aos outros, como Cristo nos amou!!!

A paz de Cristo ...

Belém - PA, 14 de fevereiro de 2014.

João Carlos

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Ilha de Marajó - PA, Fevereiro de 2014.

Giovanni Salera Júnior

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

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Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 15/02/2014
Reeditado em 15/02/2014
Código do texto: T4692816
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