Sem Nome

Numa rua qualquer, Dias amargos de um mês triste dos piores anos da vida

Caríssimos leitores

Já tive um nome, uma casa, uma vida! Infelizmente o destino nos prega peças que não podemos contornar. Hoje não tenho nome, não sou ninguém aos olhos da sociedade, minha casa são as ruas e minha vida já não existe mais. Tudo começa com uma pequena marola que segundo políticos logo ia passar, mas por fim ultrapassou os limites de um tsunami. Por baixo dos panos que a mídia coloca sobre os olhos dos telespectadores e dos tampões que os representantes políticos colocam-nos nos ouvidos existe uma realidade amarga que só quem passou sabe como não é como eles falam. Tinha um emprego que me rendia mensalmente um bom salário, subi rápido para cargo de subgerente de setor numa empresa multinacional. Batalhei para contornar a situação que antes eu vivia, meus pais trabalhavam na roça e recebiam pouco para termos uma vida de luxo, porem recebi muito amor e instruções para estudar muito e ter uma vida boa. Na escola tentava absorver tudo que a professora passava e foi assim que montei a base para subir um pouco. Logo no inicio do meu colegial comecei a trabalhar em um pequeno mercado da região como garoto de entrega o dinheiro que ganhava, bem pouco, ia tudo para meus pais. Graças ao meu esforço logo virei supervisor de estoque, ganhava um pouco mais, e tudo ia para meus pais. Quando terminei o colegial para minha surpresa meus pais guardaram cada centavo que lhes dei e disseram que era para investir em estudo. Não era muita coisa, mas foi o suficiente para começar a pagar um cursinho de informática. Mudei de serviço e foi como ajudante em um escritório, indicação da escola de informática, que minha vida começou. Acabei o curso e logo comecei a procurar outro curso, no serviço subi de cargo e comecei a fazer pequenos trabalhos no computador. Na época fiquei sabendo por um conhecido que tinha aberto uma escola de profissionalização na região e que poderia ser bom para mim. Fui até lá e comecei a pagar um curso de eletricista, trabalhava o dia todo no escritório e toda noite ia até o curso. Esta batalha valeu a pena e foi a partir dai que avancei rápido nos degraus da minha vida. Entrei nesta multinacional e logo estava na sub gerencia do setor. Havia casado e tinha um filho quando os degraus se desfizeram em meus pés. Veio à crise com força e muitos foram mandados embora, e fui um deles. Para a empresa valia mais colocar pessoas jovens e solteiras com salários mais baixos do que manter um casado com filho e um salário já alto. Quando minha mulher recebeu a noticia logo pediu o divorcio. Minha vida começou a desabar. Não achei mais serviço, a crise continuava, não estava fácil. Tinha que pagar casa, carro, pensão da criança e despesas em geral. Logo o dinheiro sumiu. Vendi o carro, comecei a ficar sem dinheiro para o alimento e para meu desespero ameaçaram de tomar minha casa, não demorou muito e cumpriram com a palavra, lá se foi a casa para o banco. Por sorte minha irmã deixou ficar na casa dela até a situação melhorar, só Deus sabe como eles se mantiveram. Eu percebendo que era um estorvo numa noite sai sem avisar e fui para a rua. E é assim que termina minha história. Na rua. Com as pessoas passando por mim e me olhando com desprezo. Tenho roupa suja, mendigo alimento e algumas moedinhas para não morrer. Não me julguem de vagabundo, por favor, tudo foi muito repentino e não tive outra saída, e não são muitos os que contratariam um mendigo para trabalhar. Durante todo este tempo nunca usei uma droga sequer. A rua é minha moradia, não tenho nome, sou o lixo da sociedade.

Agradeço pela sua atenção

O Sem Nome

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Henrique Simão de Oliveria

Henrique S de Oliveira
Enviado por Henrique S de Oliveira em 18/02/2014
Reeditado em 20/07/2016
Código do texto: T4696102
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