VOLTA

Passei mais uma madrugada em claro, deitado nessa cama que tem espaço de sobra pra você, ouvindo músicas antigas e o sino da basílica que tocava de hora em hora me avisando agressivamente meus momentos perdidos de sono.

Depois, resolvi reassistir clássicos europeus pausando o filme em cada beijo apaixonado e a cada insight que só as obras europeias me despertam, daí escrevi pequenas anotações que, em seguida, queimei.

Pensei em te ligar, mas já estava tarde e acho que você nem usa mais o mesmo número. E se eu ligasse, iria falar o que? “Oi, tudo bem?”, -O que você responderia? Será que iria reconhecer a minha voz ou eu teria que me humilhar e me apresentar? –Teria que ser direto e dizer que é o amor da minha vida? –Mas poderia acontecer o pior, você estar acompanhado e me achar patético. –Melhor não, não to preparado pra levar outro fora. –Mas e se eu falasse:

“-Vem comer,

Cozinhei um pouco de cenoura pra lembrar você, seu legume favorito. Já exterminei qualquer coisa que continha coco e joguei fora todos os pasteis da banana e chocolates amargos. Fiz aquela torta de morango que você adora e comprei açaí com leite em pó pra gente comer depois e você reclamar que eu só te engordo”. Será que assim você viria e traria tudo de novo? –Os momentos felizes, os desenhos, as cartas com aquele perfume especial, minha virgindade, nossa aliança e todas aquelas rosas que eu recusei?

Quanta besteira! Eu sei que você não vem, que, amanhã é segunda-feira e tudo vai entrar em movimento, vou me esquecer da minha abstinência; conversando com alguns amigos, vendo vídeos engraçados e comendo besteiras. Ademais, você fará o mesmo, porém, não tem ninguém pra esquecer, não tem abstinência, não tem culpa. Tá certo... Acontece que éramos muitos jovens e ninguém me alertou do perigo que eu corria quando decidi me entregar sem garantias.

Tenho uma gaveta com um fundo falso, lá guardo nossas mídias, seu perfume, suas cartas que hoje estão manchadas de lágrimas, alguns presentes que não tive a oportunidade de te entregar e meu vídeo te pedindo em casamento. Sabe não te culpo. Só te agradeço, sem ironias, obrigado. Essa coisa de amar é boa, é um acontecimento. Da gosto de viver. Me relacionei com muitos depois de você, mas nunca consegui firmar nada, nem mesmo um ato sexual, me guardo sem garantias assim como me entreguei. Amor é tão diferente minha gente... Não tenho desesperos, é clichê, mas só quero ter ver feliz. Se tiver espaço pra mim será bom, mas se não tiver, tudo bem. Não sou coitadinho sofredor. Consigo seguir minha vida muito bem. Sou um homem de sucesso em outras áreas e não quero chamar sua atenção, por isso, você nem sabe por onde eu ando, te bloqueei em todas as redes sociais, não quero que você me veja, se um dia quiser conversar, você sabe onde é a casa dos meus pais, não é difícil me encontrar.

Lucas Guilherme Pintto
Enviado por Lucas Guilherme Pintto em 07/04/2014
Código do texto: T4759427
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