confissão

Amada,

Depois de muitas experiências, com o passar dos anos, cada homem atinge aquela singular fase na qual sente a quase obrigação de, definitivamente, assumir as rédeas de sua vida e planejar, com razoável consciência, o seu futuro.

Para mim, que sempre considerei a existência humana uma espécie de teatro, tal momento chegou rápido, roubando-me a ebriedade de minha juventude. Diante dos muitos bens que ganhei e usufrui, dolorosamente descubro que nada construí com minhas próprias mãos, ou o pior: que, de mim, suor e sangue nunca verti por causa alguma, além de minhas pueris brincadeiras de "desbravador de mundos".

Por isto, olhando para os resultados desta minha infundada e medíocre decadência, muito a contragosto tive que admitir que eu realmente precisava começar o árduo e urgente trabalho de revisar minhas compreensões e, imediatamente, reestruturá-las segundo os critérios de um projeto de vida, o qual, embora eu ainda não o tenha, logo pretendo construir e consumar, antes que se esgote os últimos fios de areia daquela velha e desregrada ampulheta de minha existência.

Mas, por onde começar, se a própria vida é uma grande e confusa teia de decisões, relacionamentos e consequências? Como modificar os reflexos das situações ocorridas fora de minha vontade? Como fazer mudar de curso os destinos que atrai durante os poucos anos de minha adolescência rebelde, tardia e imatura? Como, enfim, redescobrir os verdadeiros traços de minha autêntica personalidade, separando-a daqueles outros atributos que, temerariamente, copiei do mundo, para sentir-me incluído nele?

Acho que preciso de ajuda....