Carta a D'anja

Açailândia, Vinte e Seis de Janeiro de Dois Mil e Quatorze

Cara D’Anja:

Hoje seria somente um dia de domingo como tantos outros dias de domingo, comum. Aonde eu me levantaria tarde, colocaria minha roupa branca de molho para lavar, iria comer algo, talvez ir à feira, muito dificilmente, curtir a preguiça, terminar de lavar a roupa no fim do dia e com certeza fugir da missa, me enganando mais uma vez.

OS dias não são tão perfeitos e nem os domingos são tão ensolarados. Trabalho muito, luto corro atrás de ser um homem honrado parecido com meu pai nesse ponto. Durante o dia me lembro da senhora, não uma vez mas várias vezes, gosto de lembrar e falar da senhora. Acabo chorando por dentro mais vezes que por fora. Procuro por coisas, pessoas, musicas, livros, ou seja, qualquer coisa que possa preencher um pouquinho o espaço enorme que ficou quando a senhora se foi. Ai descubro que por mais que eu procure no mundo eu continuo vazio, nada vai preencher esse lugar que é só teu.

Já se vão sei anos e tanta coisa mudou; eu me perdi, me achei, me perdi de novo. Me fiz em mil pedaços, me uni, me desfiz de novo me refiz. Os natais, os réveillons, as festas, os aniversários perderam um pouco do seu brilho e até os sabores ficaram meio sem graça sem a senhora por perto. E a semana que antecede o dia vinte e seis de janeiro de qualquer ano, é sempre a mais pesada, a mais longa, a mais depressiva, a mais assoladora do ano todo. E eu só gostaria de, nesses dias, sumir do mundo. E poder, só por uma fração de segundo, me deitar na cama ao teu lado; poder ver teu sorriso, ver teu olhar, sentir aquele cheiro gostoso que saía do banheiro quando terminava de tomar banho. Poder comer mais uma vez aquela comida que a senhora fazia com tanto carinho, que poderia ser uma simples sopa de fubá, um angu que nada no mundo seria tão gostoso assim. Sinto saudade daquelas risadas altas e das piadas sujas que deixava o pai sem graça. Hoje eu vejo, como gostava de ver uma tampa cair das panelas em cima do fogão só pra ouvir a senhora ficar brava e dizer: “eu não quero xingar, mas não tem jeito”.

Quando me lembro que a senhora se foi e vejo que com sua partida muito do meu mundo também foi contigo, a que desespero. Quase tudo o que tinha de maior valor se despedaçou, a nossa família, com a sua partida. Mesmo o irmão que tanto amo, fez tudo errado se juntou com quem não devia e sumiu no mundo. Meus irmão não me ligam tanto quanto eu queria, devem estar ocupados, pois eles tem suas responsabilidades. Mas parte da culpa também é minha, pois não faço minha parte. Meu pai pouco falou comigo, quase nada, foi o que me fez ir embora tão rápido de varginha nesse natal, ainda bem que ele conversou bem com minha noiva ai deu pra saber como ele estava. Isso é culpa minha também mais uma vez que não busco estar por perto deles.

Conheci tanta gente boa, que hoje faz parte da minha família afetiva, essa que só cresce. Fiquei tão feliz com o presente que o Julinho me deu, me convidar para ser padrinho de seu casamento e participar dessa data tão especial para ele e a Mayra. Tudo bem que o terno estava apertado, e eu não estava bem vestido, meu eu estava lá ao lado do meu irmão, me emocionando a cada música que ele cantava, a cada momento, e ter acompanhado a Cristina, foi tão bom, fico honrado. Foi muito bom participar do momento mais feliz do meu irmão. Tem o Egídio uma pessoa que então pouco tempo ocupou um espaço em minha vida que não tem como explicar, com esse jeito carismático-roceiro de ser, junto com o Rafael, ah esse Vanz, são mais dois irmão brancos para família.

Queria tanto que a senhora estivesse aqui, acho que tudo seria tão diferente. Eu seria tão mais feliz e completo. Ainda existiria uma família unida. Queria e como eu queria que a senhora viesse me visitar aqui no Maranhão, a senhora e meu pai. Conhecer meu trabalho, conhecer o meu local te trabalho, as pessoas que me cercam. E ver que tento fazer tudo o que me compete com a maior dedicação e carinho. Tem dias que não consigo, algumas coisas me perturbam, mas pelo menos tento ser o mais cordial, amigável e simpático possível, mas as vezes o sangue ferve, e acabo por explodir, muitas vezes com as meninas da recepção, muitas vezes não consigo entender o erro do outro, a falha alheia, mas procuro pedir desculpa, reparar o mal de alguma forma, mas por opção eu gostaria de ouvir tudo calado para não magoar ninguém.

Guardo com tanto zelo sua memória, para que não se desfaça em mim sua imagem. E aqui em mim ficou tanta saudade, que não tenho como expressar, poderia escrever um livro todo dia vinte e seis de janeiro que nunca iria falar tudo o que tenho pra te dizer, não mataria nem um pouco a saudade. Ah! Mãe que saudade que não tem fim e as lagrimas como chuva caem, e o coração fica pequeno. Como a senhora me faz falta, como eu queria que a senhora estivesse aqui para tenho tantas dúvidas do que fazer.

Agora só me resta caminhar dia após dia a espera de um dia, merecer, poder estar outra vez junto de ti. Quero tanto poder merecer o céu, para poder estar junto da senhora de novo.

E antes de me despedir, não quero esquecer de agradecer. Obrigado pelo que a senhora fizeste pelo meu pai. E sei que tem seu dedinho nisso que aconteceu. Na verdade seu que foi sua intercessão neste milagre que ninguém irá reconhecer. Mas sei que se é algo a estudar. O pai sofreu quando a senhora se foi. E sei que tudo o que aconteceu entre nós dois foi por conta desse sofrimento dele, e por isso não o culpo de nada. Eu espero que um dia ele possa se reencontrar e quem sabe encontrar uma mulher boa que vá cuidar dele.

E como sempre quero me despedir com um beijo e pedir sua benção. Até posso ouvir sua voz me dizendo DEUS te abençoe.

Te amo e sempre amarei. É uma pena eu não ter nenhuma foto junto com a senhora para carregar comigo, mas tenho as lembranças e isso ninguém nem mesmo o tempo pode tirar de mim.

Te amo.

Com carinho;

Wellington Cabrini Gabriel

Niko Gabriel
Enviado por Niko Gabriel em 11/06/2014
Código do texto: T4840419
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.