E FOI AÍ QUE ME PERDI DE MIM...

Não sei bem se pretendo escrever sobre partida ou chegada. Sobre medo ou coragem.

Tenho pensado muito sobre enxergar a real e singela beleza em meio ao caos. Sempre fui assim... o inverno queima e fere minha pele sensível, mas consigo pensar em um edredom macio, chá quente, um bom livro e meu caderno e caneta. E é mais ou menos nessa contra mão que penso em você.

A gente não sabe, não gosta e não admite pensar na partida. Nunca. Quase chegamos a suplicar pela morte do que pensar em sentirmos a dor da partida.

A gente gosta dessa espera nos dias... dessa espera pelos horários amavelmente reservados ao outro. Dessa espera pelo "oi", pela voz ao telefone, dessa espera pelo som da risada...

E quando os horários - antes amavelmente reservados - são consumidos pela feroz e mortal caminhada da vida diária?

Então é como se o vento do inverno, o mais brando vento rasgasse a pele em minúsculos pedaços. Sentimos as dores do desalento em cada milímetro do corpo, e em partes que nem sabíamos existir.

A dor do adeus ocupa tudo... A gente chora, perde a esperança, enxergamos mas não vemos, ouvimos mas não falamos. A dor que nos consome, nos cega. E a sensação de felicidade nos parece tão remota que é inacreditável.

E é particularmente difícil quando sabemos que sentiremos todo o descrito acima, mas temos consciência de que somos nós a pessoa a partir.

E foi aí que eu me perdi de mim.

Pra não pensar nas doces palavras, no sorriso sincero, no Eu te Amo... Ocupo-me agora em pensar na sua ausência, ocupo-me a pensar que fomos um encontro lindo numa vida curta. Que suas juras de desejar-me pra sempre foram fruto da impossibilidade que nos acometeu. Ocupei-me em me fazer saber que nem tudo que é bonito precisa acontecer. Que nem todo Amor que ecoará na eternidade, foi consumido num beijo, num Amo Você ao pé do ouvido ou numa noite de pura e intensa paixão.

Nós existimos, nós nos encontramos em meio ao acaso que virou caso, nos tocamos sem nos encostar e vivemos muito mais do que a maioria conseguirá viver nessa vida. Enlouquecemos de desejo e agora vamos partir...

As rimas fugiram de meus versos, a poesia fugiu desse meu texto. Mas, eu sei que tudo é temporário e para cada término existe um recomeço.

A solidão desses meus dias chegará ao fim... Você será lembrado como algo bom, como chuva quente em noite fria.

Não se preocupe meu Amor, encontro-me em paz com nossos destinos, aceito agradecida esses encontros relâmpagos que a vida ironicamente proporciona.

Acredito que por um bom tempo você ocupará boa parte das linhas de meus textos, ocupará meu fio de esperança na espera por um novo Amor.

Verei você, Lerei você, Sentirei você em muitas músicas, muitos filmes, muitos diálogos com amigos, no carteiro e até mesmo nas batatas fritas.

Por me querer bem, entenda... O afago é melhor que a dor, a partida serena destrói com mais ternura e é mais fácil de ser superada. Entenda que eu não mudaria nenhum detalhe desde o dia que lhe conheci. Perdoe-me, mudei somente o final que havia carinhosamente sonhado...

Estou voltando pra casa... Sem você.

Angélica Vespúcio
Enviado por Angélica Vespúcio em 21/06/2014
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