SAUDADE II

Aracaju, 07 de julho de 2014.

Querida irmã Titiu,

Estive na roça por esses dias, como tudo aquilo me faz lembrar você! Choveu por aquelas bandas e dá gosto sentar no banco e ver tudo verde ao redor. Lá tudo foi desmatado, dá até pra avistar as casas dos vizinhos das redondezas que você sabe, são poucos.

No curral havia 8 bezerros e no terreiro apenas algumas galinhas. Era estranho não ter leite nem ovos na casa de mãe, mas acredite, esse tempo chegou. E foi um acontecimento irmos ver os lindos rebentos.

Os invernos são a cada ano, mais tímidos, já não se ver plantações de feijão e nem lembro mais quando houve milho na fogueira de São João. Os cajueiros são velhas árvores sucumbidas ao mofo das folhas, quase não produz aquele caju suculento e aquela castanha adocicada. Os umbuzeiros já não são os mesmos. A cacimba secou seu leito.

Sabe os pilões embaixo da quixabeira? Um foi queimado e o outro está quase soterrado pelo desuso, já não se faz fubá nem mugunzá por aqui, tudo agora é comprado na cidade! Na semana santa comeram os últimos cágados que sobreviveram à falta de víveres. Não se cria mais pebas nos tonéis nem guinés nas capoeiras. Acabou-se tudo minha irmã, são outros tempos, só se cria por aqui dominó e novelas.

Os vizinhos não aparecem mais, acabou-se seu Arnaldo, antes dele as farinhadas. As crianças não existem e por isso mesmo a Escola fechou. Tia Sanja mudou-se pras bandas das Barreiras, já não aparece mais cortando a serra, montada no seu jumento, no fundo do nosso quintal. De lá ela teve acesso à energia e até tem celular! São mesmo outros tempos.

O governo dá assistência ao sertanejo, deu cisternas, caminhões abastecem de água todo mês, já não se bebe água de barreiro. Já não se coivara a roça, nem se planta no enxadeco, já não se colhe à mão! Hoje tem trator para preparar e plantar a terra, pra colher e transformar em ração quando a chuva se demora demais a cair. São outros tempos, chegou o progresso no sertão, também a seca se modernizou.

Daqueles tempos, só lembranças, nostalgia. Nunca mais veremos o som do nosso velho carro de boi carregado chegando do roçado. Nunca sentaremos no banco do alpendre para ouvir histórias e causos em noites enluaradas...

Eram outros tempos, eram tempos atrasados...

Com amor e saudades,

Ana Cátia