Carta ao meu amor

Não o vi mais. Também não tenho notícias.

Afinal, querido, o que houve entre nós? Separação definitiva? Não acredito. Ficamos íntimos demais para que isso acontecesse. Amantes sim, mas antes de mais nada, amigos eternos, namorados carinhosos sorridentes um com o outro.

Gosto do seu jeito de me olhar, seu mirar firme, quieto e intrigante. Não diz nada, e quando dou por mim estou em seus braços fortes e acolhedores. Ah! Que entrega... Sinto como se fosse uma pequena menina protegida por um Príncipe Encantado. Verdade, querido, não é pieguice minha não, também não estou inventando nada para prender você, tenho outras maneiras. Estou errada?

Soube que você anda escrevendo muito, teve sucesso com um romance, coisa que não me espanta, conheço seu talento não é de hoje. Leio o que escreve aqui, fico meditando. Quase a maioria eu me sinto presente, como sua musa.

Fiel aos seus princípios, jamais escreveu uma poesia e dedicou a mim. Não me diga que não é poeta, não liga para poesia. Liga e sei bem disso, li um soneto seu maravilhoso. Interessante, foi publicado numa revista literária daqui, a "eisFluências", nome estranho, mas os portugueses gostam de inventar mesmo.

Não, querido, enquanto estiver este clima de guerra no Brasil, vou ficando por aqui mesmo. São ladeiras de pedra, construções seculares, noites românticas, ainda que sem você. Fosse só por mim, voltaria breve. Mas sempre penso em Yuri, não quero criar meu filho num campo de batalha. As feiras, legumes e frutas que parecem saídas de um quadro impressionista, tão coloridas são. A vida simples, que vai correndo num fluir vagaroso. A única coisa que não tenho aqui é você.

Já ameaçou de vir não sei quantas vezes, mas suas amarras são fortes. Sabe, parece mesmo masoquismo, vontade de sofrer, mas penso nisso todos os dias. Amor, não me diga que não sente a mesma coisa, morro de tristeza. Escrevo assim e os olhos ficam quentes das lágrimas que brotam, é saudade, bem querer, vontade de tocar você, ouvir sua voz, tomarmos um vinho com castanhas. Almoçarmos juntos, o peixe que é vendido onde moro vem direto do mar para o pequeno mercado.

Quero você, preciso de você.

Escreva. E tome logo esta decisão.

Sua,

Duda

Carmem Velloso
Enviado por Carmem Velloso em 27/08/2014
Código do texto: T4938550
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