Ser que te tornaste invisível:

Ao descobrir as tuas enganações, o que mais me feriu foi ter sido, com as descobertas, destruído o meu passado, tão prezado por mim.
O que tu foste capaz de fazer, anulou o ser que comigo viveu por mais de trinta anos, nem a tua imagem permaneceu em minha memória.
No inicio, quando descobri o teu mar de lamas,  me senti completamente vazia, sem chão, sem referência, sem rumo e sem direção.
Com o passar dos dias, tudo vai se ajustando aqui dentro de mim, e o que havia sido, a principio, ruim, é exatamente o que me dá forças para perceber que o passado está enterrado, sendo este bom ou ruim. O que foi vivido acabou e ponto final. Assim enterro juntas as más e as boas lembranças, apagando-te completamente.
O que realmente devo considerar é o dia de hoje. E este  não se pode desperdiçar sofrendo por um ontem que já não existe mais.

As coisas vão se descomplicando à medida em que a realidade vai se clareando e sendo aceita em todas as suas dimensões.
Sempre acreditei que a felicidade é opcional e o sofrimento é uma contingência da vida. Até descobrir que, apesar de não deixar de ser verdade, a continuação do sofrer também é opcional. Afinal de contas, não se pode modificar os fatos, e ao aceita-los abranda-se o coração, o espírito e a alma que buscam a beleza e não as memórias fétidas que tanto fazem sofrer.
Somos seres únicos, e somente cada um de nós poderá se cuidar. O que não se deve fazer é se colocar nas mãos de outrem, e  ficar aguardando que este faça o melhor por nós, porque  abrimos mão de tentarmos fazer algo por nós mesmos.
Foi o que eu fiz durante toda a minha vida. Coloquei-me nas mãos de quem amei, acreditando estar em boas mãos. Sofri ao descobrir que fiz tudo equivocadamente, e o que eu deveria ter sido era a escolha das mãos em que me colocaria.
Paga-se o preço pelas más escolhas, isto é fato. Entretanto, sofrer e destruir a própria vida, ou o que tenha restado dela, porque alguém destruí sua maior parte, é no mínimo estolidez.
Não sei explicar as maravilhosas transformações que estão acontecendo em meu ser, pois, pelo meu próprio jeito frágil de ser, por este meu jeito dependente de ser e  a leveza que sinto, me surpreendem. Algo suave foi tomando o lugar das tristezas, das indignações, das surpresas indesejadas, e me invadindo profundamente.
Sinto-me melhor a cada dia, e o meu passado vai sendo rabiscado. Talvez futuramente eu consiga apagar todos os rabiscos que sobrarem.
Nasce em mim, um novo ser. Estou gostando deste ser que surgiu não sei de onde para me amparar e me mostrar que a vida é muito mais do que a concentração em coisas que não valem a pena, em coisas que somente ferem e machucam, se estas forem mantidas na memória.
Bonita é a vida que vale a pena ser vivida. E enquanto há o ar penetrando os pulmões pode-se reconstruir a vida e nela sorrir, e nela se alegrar.
Mari S Alexandre
Enviado por Mari S Alexandre em 14/10/2014
Reeditado em 25/07/2015
Código do texto: T4998452
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