EFEITO NOSTALGIA
Hoje acordei nostálgico, como se tivesse acabado de sair da rua, com os pés cheios de lama, ouvindo aqueles gritos incisivos e repetitivos “vai tomar banho menino e lave as orelhas!”. Aquele cheiro de comida fresca, aquela gritaria de crianças lá fora e o “plim plim” indicando o começo da Sessão da Tarde...
Acordei ao som do melhor vinil, com a roupa mais extrovertida do guarda-roupas e a maior vontade de ser criança e ter como únicos compromissos, a rua, escola, rua e cama (sujeito a alterações). Senti vontade de não ter nada o que fazer, de pisar o chão descalço, de caçar trevos de quatro folhas, brincar de polícia e ladrão, morrer e ressuscitar sem malícias e maldades...
Saudades de ser médico, bombeiro, cantor, veterinário, Tarzan, Power Ranger vermelho, astronauta, cientista, explorador, Rocky Balboa, samurai, rei, pai, mãe, cachorro, dinossauro, avião, gorila, estátua, mágico, bruxo, robô, milionário e paquita da Xuxa...
Sinto falta dos melhores cantores (antes e depois das overdoses), falta das letras que tinham mais rimas que palavrões, das fitas cassetes (mesmo tendo que rebobinar pra não pagar multa na locadora).
Falta daquela época em que não víamos a hora de começar A lagoa azul, que ficávamos constrangidos quando Richard descobria como era gostosa aquela “coisa” com Emmeline e depois de 9 meses descobriam o quê isso trazia...
Saudades da época em que não achava sexy Tarzan só de tanguinha, que não achava estranho Super Man usar cueca em cima da calça e não me perguntava como podia existir uma jacaré falante e ainda por cima, bruxa.
Sinto falta da época que não sabia o que era medo da velhice, da solidão, da morte...
Sinto falta de comer batata frita todo dia e nem me preocupar...
Saudades de comer leite em pó com água...
Sinto falta do meu cachorrinho que fugiu de casa e nunca mais deu notícias...
Falta de quando não me preocupava com métrica, enredo, clímax e desfecho...