Carta: Despedida

Ceres, 23 de setembro de 2012.

Meu amor

É incrível como a dor é subjetiva e amiga do tempo. Não que nosso caso tenha sido um pormenor que gostaria de ter evitado, afinal, não precisaria sentir esse aperto no peito, essas palpitações, essa angústia, esse vazio ocasionado pela distância e pelo desagradável sentimento de querer mais você.

No momento, todo esse amor é desnecessário. Ah... Sinto muito! Falei em amor, só Deus sabe como essa palavra a incomoda. Para o seu vil coração tão dolorido, amor e todas as derivações do radical da palavra lhe soam como xingamento, como um palavrão que não deveria ser dito, como se fosse inculto ou falta de nobreza dizer.

Gosto de implicar, de ser chato, inconveniente. Gosto de tratá-la dessa forma, você merece. Digo e repito eu te amo, acho necessário. Não o digo como tentativa de vulgarizar uma frase tão célebre. Acredite, eu não usaria segunda pessoa do singular de forma desnecessária, acho muito requintado para a ocasião. Mas digo mesmo assim, nem assim você entende.

Aprendi que há certas coisas na vida que dizemos só por dizer. Passei alguns anos na faculdade estudando um tal de "Speed Acts", bobeira... As assertivas não têm poder de mudar nada, a realidade então, quando é dura e sórdida, nem frases bonitas como "eu te amo" podem fazer alguma coisa para amenizar o sofrimento. Ah... essa dor é mesmo subjetiva, só ameniza quando fecho os olhos e sinto o amor, me alimento dele. O "eu te amo" que lhe falei cochichado ao pé do ouvido, não era com intenção de te conquistar. Eu já sabia que isso é tarefa herculana, eu jamais realizaria tantos trabalhos como Hércules, não tenho tanta força de vontade. Aquele amor que dizia sentir por você, foi meu desabafo.

Minha tentativa desesperada de pedir clemência, minha forma desesperada de implorar, mas você não entendeu, mesmo quando completei a frase. Agora, diante de tudo. Minha última tentativa desesperada é negar a dor, é fingir a sua inexistência, é criar na minha loucura o meu porto seguro. Pode não ser a melhor escolha, mas no momento é o que conforta. Se minha teoria estiver certa, em algumas semanas quero lembrar que você não existiu.

O.M.

P.S. Escrevi esse texto em 2012, na época, tinha voltado a morar no interior do Estado. Gostava de escrever cartas em um diário; somente eu as lia posteriormente, não eram remetidas a ninguém, mesmo que tivesse vontade. Sempre assinava com o pseudônimo "Olávio Mareli" ou somente "O.M".

Renato W Lima
Enviado por Renato W Lima em 16/03/2015
Código do texto: T5172303
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