O bilhete!

Olha o que achei em uma anotação hoje, datada de 7 de maio de 2013: “só passei pra dizer que te amo”!

Pois é, não foi só você que passou. O tempo também passou, como é natural de acontecer, claro, e resta hoje somente a lembrança, somente o bilhete, com a frase cravada com tinta na folha branca, dentro de uma gaveta qualquer. No momento que escreveste o bilhete, senti verdade, amor, sentimento, vontade de dedicar e partilhar o amor. Mas hoje, estranhamente, não passa de uma frase escrita com tinta no frio papel. Poderia ter escrito na areia, em uma árvore, em uma parede, mas mesmo assim, hoje, não passaria de uma frase fria, que o tempo está apagando, seja lá onde quer que tenha sido escrita. O importante, vale dizer, é que no dia em que a lí pela primeira vez, senti meu coração saltar, meus olhos marejarem, minha pulsação acelerar e a certeza que era amor puro, verdadeiro. Hoje, ao contrário, não passa de tinta no frio papel. Aliás, papel já amarelado, assim como a tinta, desbotada pela ação do tempo. Estranho, mas verdadeiro, que a tinta desbota, o papel amarela, mas o sentimento poderia estar ainda vivo, mas lamentavelmente com o tempo, tornou-se sem vida, desbotado também. Poderia ser diferente se não o tivesse escrito com tinta no frio papel. Poderia ter sido escrito na alma, no coração, e assim, manter-se-ia com o brilho natural dos sentimentos que se eternizam, jamais podendo ser atacado pelo tempo. Ao contrário, o tempo o teria firmado, tornando-se cada vez mais forte, mais notável. Poderia ter se tornado, ao invés de um simples bilhete, um quadro, uma obra de arte, que poderia fazer inveja a Renoir, a Monet, ou qualquer outro artista de renome. Não seria jamais apagado, roubado, usurpado, conquistado por quem quer que seja. Tornar-se-ia, até, com o passar do tempo, células ou moléculas que se misturariam às minhas, confundindo-se com meu DNA, tornando-se parte de mim, encrustado no meu corpo e nunca mais, mesmo que alguém quisesse, poderia dali ser retirado e hoje, portanto, não o veria mais como um simples bilhete dizendo “passei por aqui pra dizer que te amo”. Ao contrario, a frase seria assim: “Estou aqui para mostrar a você, que te amo”