"MINHA MADONNA"
Minha Milady,
Eis-me aqui ó minha madona, para agradecer-te do bem que me queres e do amor que tens por mim.
Sonhar contigo tornou-se rotina. E esta noite eu sonhei que tinhas vindo a Catânia e que havias telefonado para que eu fosse encontrá-la no hotel.
Eu fiquei muito feliz com este evento e queria vestir, para a ocasião, a minha roupa mais bonita e parecer mais belo aos olhos vossos, ó minha madona.
Mas eu não encontrava a roupa e me desesperava, finalmente decidi-me por uma outra e quando me apresentei no hotel, precedido de um grande buquê de rosas vermelhas, o porteiro entregou-me um pequeno bilhete que eu li; estava escrito:
“Caro Senhor Enzo, desculpa-me tanto, mas eu não pude esperar porque o meu avião estava de partida. Saúdo-vos muitíssimo. A vossa princesa, Lady Clara.”
Desiludido e infeliz despertei e constatei, resignando-me, que havia apenas sonhado.
Sim, amor meu, tens razão no dizer-me da minha preguiça, mas não é sempre ela que me constrange a não escrever-te, muitas vezes outros motivos se interpõem e eu fico bloqueado.
Mas basta com justificativas pelas quais não posso ser perdoado; para este gênero de crime não é admitido nenhum perdão a alguém, que por um motivo ou outro, se esquece de escrever ao amor da sua vida.
E vendo que não posso ser perdoado, vos peço, Milady, com profundo afeto, a graça de conceder-me uma pena ainda mais branda, porque sem o vosso perdão transformado em graça, me sentirei atirado ao inferno fervente, a arder eternamente e sem esperança de poder ver os vossos olhos belos e sonhar com a vossa boca.
Então, minha madona, visto que graça vos peço, graça dai-me. E eu que mais do que de mim vos amo, vos amarei ainda mais e serei feliz.
Vosso Enzo
( Carta entre Enzo e Clara, personagens do meu romance "Um amor siciliano". Muitas delas possuem um tom de brincadeira leve e divertido. O casal, em muitas ocasiões, usa linguagem inspirada em romances antigos.)
(Hull de La Fuente = Claraluna)
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