Nota de uma Aluna da Filosofia UFC


 
Meu nome é Vera Alves, sou escritora e estudante de Filosofia na Universidade Federal do Ceará.
Estou em greve.
No início era contra mas depois uma amiga me falou dos cortes no orçamento para a educação, das pautas sobre as residências universitárias, da creche para os filhos das alunas e a ampliação do horário de atendimento do restaurante universitário. Então aderi ao Movimento.
Eu apoio as reivindicações estudantis. São justas e urgentes no entanto não concordo quando se usam palavras como "truculenta" e "antidemocrática" para referir-se à atual Gestão. Porque eu conheço o Vice-Reitor, Prof. Custódio Almeida. Conheço-o há cinco anos. Ele é um excelente Professor e ama o que faz. Ele ama a UFC.
Muitas vezes ele foi dar aula mesmo estando doente. Nos dois semestres em que fui monitora de Antropologia Filosófica e no primeiro em que fui aluna do Prof. Custódio ele faltou somente três vezes mas sempre deixou alguém em seu lugar.
O Prof. Custódio concorda e trabalha para que os estudantes sejamos atendidos em nossas reivindicações.

A Polícia Federal foi acionada na tarde em que a Reitoria foi ocupada. Eu também teria chamado. Foi assustador. O barulho da porta sendo arrombada demorou para sair da minha cabeça. Eu estava lá dentro. Vi uma senhora de idade, diabética, passar mal de tanto medo. Outra teve uma crise de choro. Fiquei muito nervosa.
Eu poderia dizer que truculenta e antidemocrática foi a forma como um aluno falou comigo, me acusando de ser servidora quando eu quis permanecer no Prédio. Me mandaram apagar um vídeo que eu fiz do começo da Assembléia, quando tocava uma música que eu gosto.
Mas na minha idade não levamos em conta os ardores da juventude. Então me retirei. Não vi quando a Polícia Federal chegou, o que foi dito na reunião, de onde saíram os dois deputados (coincidência, os partidos que eles representam?) que foram prestar solidariedade aos ocupantes.

Mas foi um ato impensado e já passou. O Movimento Estudantil se fortaleceu e está amadurecendo.
Amanhã estaremos juntos para pintar as paredes da Reitoria. Não é um ato político tampouco uma provocação. No entanto houve quem nos chamasse "de direita". Que estupidez. Não há lados nessa história, há pessoas trabalhando pelo bem da UFC.
O prédio da Reitoria não é blindado e nem o Vice-Reitor. Qualquer um de nós pode chegar lá e pedir para falar com ele, será amavelmente recebido e ouvido.
Quarta-feira estaremos novamente juntos no Ato de Greve, às 15h na Praça da Gentilândia.
Não vamos levar em conta as ironias dos que sequer estiveram presentes àquele 1° de setembro. Quem esteve viu o Reitor em Exercício observar, silencioso e decepcionado, tudo que estava acontecendo. Ele recebeu aos representantes do Movimento pela manhã e à tarde fomos surpreendidos com a ocupação que sequer foi deliberada em assembléia geral.
Ele permaneceu no prédio porque quis, não foi "sequestrado" como algumas pessoas mal-intencionadas disseram. Ele ficou porque sabia que, quando os ânimos se acalmassem, haveria diálogo.
Não houve depredação, quem usou essa palavra foi infeliz porque deu a entender que os estudantes quebraram tudo. Os ocupantes não quebraram um copo.
Mas quem pensa que o prejuízo foi apenas de uma porta quebrada e paredes pichadas engana-se. O prejuízo, mais que financeiro, foi moral. Para o Movimento.
Outros diriam "e os desvios financeiros que ocorreram nas gestões anteriores?"
Primeiro, não estou a tratar das gestões anteriores. Segundo, eu precisaria verificar documentos e processos para só então emitir a minha opinião. Por hora fica para mim como o boato de o Reitor estar em um safári na África do Sul quando na verdade ele estava em Brasília cumprindo agenda oficial.
Esperamos que as próximas atitudes sejam sensatas e coerentes aos anseios dos estudantes da UFC.
Não daremos ouvidos àqueles que insultam o Vice-Reitor sem ao menos conhecê-lo. Ele é honesto. Ele trabalha muito e os frutos do seu trabalho como nosso representante tornar-se-ão conhecidos em breve.

Neste dia em que comemoramos a Independência do Brasil que, como dizem os historiadores, não foi tão bela quanto Pedro Américo quis retratar no quadro, ouso fazer uso de um verso do nosso Hino Nacional para saudar aos que lutam por uma Universidade pública e de qualidade:

"Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta!"


Fortaleza, 7 de Setembro de 2015.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 07/09/2015
Reeditado em 10/09/2015
Código do texto: T5374127
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