Carta das lembranças.

São Bernardo do Campo,

23 de Setembro de 2015.

Carol,

Eu acho que te vi brincando na fonte da alegria, eu acho que senti suas feridas. Embora que, de início, acho que nos vimos duas ou três vezes, não me lembro - e nem me forço a tal. Lembro-me apenas da primeira vez que a vi: Ah, aquele laço no cabelo, as pernas descansando na cadeira e o estudo concentrado. Em uma simples praça de alimentação, uma desconhecida me rendeu o sentimento de perder o ar! E quando conversei pessoalmente, percebi que a beleza era, na verdade, sua segunda qualidade...

Como dizia Stanislavski, o primeiro encontro com o texto (no caso, um pouco mais humano, comigo) é o que fica. É o que marca. É o que impressiona ou não... Já de antemão, lhe peço desculpas por ter sido levemente travado e louco por um alimento ou água em alguns momentos. Veja, nem por um segundo me faço de gato miando para receber carinho, ou peço a negativa do que afirmei. Apenas tento demonstrar que encontros (meu Deus, eu defini como encontro???) não podem ser em um dia da semana após um final de semana de doideiras, que jovens sem noção fazem. Já que dispersei, seguirei assim... O nosso 'encontro' foi diferente dos que já fui ou apenas participei, se é que me entende. No decorrer do tempo em que estivemos juntos não fui presunçoso em querer um beijo seu (quiçá em um momento rs). Talvez assistir filmes de mil novecentos e tralala tenham me deixado mais nos tempos do vovô do que no seculo XXI para querer algo logo de cara. Porém, mesmo que estivesse no século atual, vejo que não me demonstrei interessante a você. Podia ter vendido minhas qualidades, ter mostrado meus dotes que vejo algumas doidas admirarem! Mas preferi ouvi-la quase integralmente, e assim fiz, sem arrependimentos! Por isso, adorei a história de vida de seu pai, das aulas da Broadway com as crianças, de saber que você acredita em astrologia (zoado) e de que és cagona para aventuras radicais! Alem do mais, te achei estranha por não precisar dos "ovos do Woody Allen"... Foi então que percebi, claramente, que como os por ques dos altos e baixos da vida, pessoas aparentemente diferentes podem ascender uma faísca em corações. Igual vi ascender, empiricamente.

PS: Até parece depreciativo - e é -, eu não espero que me mande uma mensagem. Às vezes penso que juntos seriamos o maior equívoco de Deus desde que o The Man estalou os dedos para criar polêmica sobre política e igrejas. Portanto, visto que esta carta não foi feita para ser lida, muito menos para mudar o rumo do rio: estou apenas esquentando o leite no calor da primavera de sãoberlondres.