Lapso temporal

Não sei ao certo por onde começar. Talvez, o certo seja pelo começo, por onde tudo começa e decorre para acabar.

No começo, quando chegamos a esse mundo, sentimos um gosto amargo. Muito amargo!

Entramos chorando neste lapso temporal, sem saber o que nos aguarda, sem ideia do que a vida nos reserva. Sem saber que nada é certeza, se não a morte.

Nascemos sofrendo e sofrendo vivemos. E em nossa juventude, tudo ainda é amargo, e o amargo é mais amargo.

Com o passar do tempo, porém, esse amargo diminui e torna-se quase doce. Mas isso, talvez seja apenas uma ilusão, que a vida nos condiciona a crer.

A solidão que nos assola, é estarrecedora. Tão amarga quanto o mais amargo que amarga as nossas bocas. Nascemos sós, morremos sós e, nesse breve intervalo, fingimos estarmos acompanhados. Acreditando estarmos acompanhados. Sonhando estarmos acompanhados.

E entre tantos o sonhos que sonhamos nessa vida, sonhamos viver. E talvez, esse seja o sonho que nos impulsiona, dia após dia, noite após noite, sempre adiante. Sempre tentando. Sempre em frente. Sempre lutando.

Nesse amargo que nos amarga, nossos devaneios, nossas loucuras e insanidades, creio não passar de, apenas, meras tentativas de fuga. Um escape dessa tempestade, um tempo para esse temporal.

Porque a vida e a morte se lançam e entrelaçam e, de repente, neste lapso, por força divina ou desastre, o amargo trás o caos e tudo entra em colapso.

É chegado o fim, ou o início, do tempo, amargo tempo... Tendo passado o tempo da vida. Tendo passado a morte num lapso.

Carlos Rocha - 16 de Junho de 2015. 00h26min.