A última carta

Se olhou no espelho, enxugou as lágrimas e disse:

- Não mereço isso! - Consequentemente voltou a chorar rios, durante um bom tempo.

Era um choro lastimável, era um choro de desespero, era um grito em silêncio. Mais uma vez, passou a mão borrada de rímel no rosto e ergueu a cabeça. Direccionou seu olhar para o espelho novamente, fixou na cor dos seu olhos, aquele castanho esverdeado brilhava mais que tudo. Era tristeza.

Foi tomar um banho e se arrumar, estava linda!

A mais bela! Ainda assim a dor permanecia em si. Olhou para baixo, suspirou e disse:

- É agora. -

Pegou um papel e uma caneta e pôs-se a escrever. Terminando, foi buscar um envelope e selou-o dando um beijo com seu batom vermelho como o sangue.

Com a carta na mão saiu à pressa de casa.

Pelo caminho encontrou uns homens bêbados que não contiveram seus piropos sujos. Ela, então, parou, olhou para trás com repulsão e seguiu caminho.

Chegando ao destino, deixou a carta por baixo da porta e saiu.

Correu, correu muito, até que chegou à praia, o mar estava agitado, o dia estava nublado e seu coração estava despedaçado.

Foi então que a última lágrima caiu, a última carta escreveu e a última chama se apagou.

- Finalmente tua! - Afirmou sorrindo, e lançou-se.

"Lisboa, 27 de Novembro de 2016

Querido Amor

A ti te devo cada momento da minha vida, principalmente os ruins, pois graças a ti, aprendi o que é amar!

E amar, é tudo menos o que sentias por mim, foram muitas noites sem dormir, muitos dias sem sair, muitas horas sem comer. Mas agora sei, que quem ama não faz sofrer, imagino que estejas a dormir a esta hora, por isso preferi não tocar à campainha. Pois eu te amo, e não quero te acordar, espero que estejas a dormir bem, pois em consequência do que passei ontem, não preguei olho a noite inteira.

Mas não faz mal, eu perdoo sim, que não se repita está bem?

Passei mal, já te tinha dito? Estive com febre e acabei desmaiando, mas agora estou melhor, imagino que estavas muito cansado para me perguntar como foi o meu dia, mas não faz mal, eu perdoo. Estou com problemas em casa, pergunto-me se virás aqui me buscar, para pelo menos eu me divertir e sorrir, mas como sei que estás ocupado, não vens, não faz mal, eu perdoo.

Consegui um trabalho, e sempre que posso tento falar contigo, mas não pareces feliz ao ouvir a minha voz, estás a ser frio comigo, estou a incomodar? Deves estar ocupado mas não faz mal, eu perdoo.

Finalmente recebi um bom dinheiro, vamos jantar fora? Não podes vir? Entendo, já estava marcado de ir jogar à bola com os teus amigos, não faz mal, fica para outro dia, eu perdoo.

Finalmente, chegaste! Está tarde, estou cansada mas é claro que fico contigo, estou doente mais uma vez, mas eu fico sim. Pena que adormeceste, eu lutei contra o sono, porque não fizeste o mesmo? Não faz mal eu perdoo.

Sei que hoje tens a tarde livre, será que podemos conversar? Tudo bem, podes jogar, eu compreendo, eu perdoo.

Sabes porque perdoei e aceitei tudo? porque ao contrário de ti eu amei com todo o coração e todas as minhas forças, eu fiz tudo, dei tudo e lutei muito mais do que sofri. Hoje acordei, olhei-me no espelho e vi o que me tinhas feito, a dor interior era vista de fora, então decidi me entregar ao meu único amor. O mar.

Aqui me despeço e me despedaço,

um beijo terno de quem muito te amou.

Tua namorada."

East Wind
Enviado por East Wind em 25/06/2016
Reeditado em 25/06/2016
Código do texto: T5678119
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