UMA CARTA DE MADRE TERESA

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Na época em que o Presidente Richard Nixon governava os Estados Unidos, o ultra-católico e conservador Charles Humphrey Keating protagonizou um dos maiores escândalos financeiros de todos os tempos enganando milhares de pequenos poupadores americanos que perderam todos seus bens. No auge de seu sucesso, Mr. Keating fez uma doação de 250.000 dólares (que nem eram dele) à Madre Teresa a qual o retribuiu invocando para ele a proteção divina e presenteando-o com um crucifixo.

Finalmente, em 1992, Mr. Keating foi processado pelo Estado da Califórnia e condenado a dez anos de prisão. Durante a celebração do processo, Madre Teresa, sem explicar por qual motivo conhecia o réu, tomou a iniciativa de escrever uma carta ao Juiz Lance Ito, aqui reproduzida:

“Ilustre Lance Ito:

Nós não nos envolvemos nem em negócios, nem em política e nem em tribunais. O nosso trabalho, como Missionárias da Caridade, consiste em assistir generosa e gratuitamente os mais pobres entre os pobres. Eu nada sei das atividades e dos negócios de Mr. Keating, e nem dos assuntos aos quais o senhor está se dedicando. Apenas sei que ele sempre foi generoso e gentil com os pobres de Deus, e sempre disposto a ajudar quando havia necessidade. Bem por esse motivo não quero esquecer dele num momento em que ele e a sua família estão sofrendo. Jesus disse: “Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a mim que o fazeis”. Mr. Keating fez muito para ajudar os pobres, e é por esse motivo que intercedo por ele. Cada vez que, a pedido de alguém, falo com um juiz, sempre lhe digo a mesma coisa. Peço pra ele rezar, olhar no fundo de seu coração, e fazer o mesmo que Jesus faria na mesma situação.

E isso o que agora peço ao senhor, Meritíssimo.

Expresso a minha gratidão orando para o senhor, para o seu trabalho, para a sua família e as pessoas com quem trabalha junto.

Que Deus o abençoe.

M. Teresa”

O juiz não respondeu, mas o fez o Dr. Paul Turley que, como vice-procurador de Los Angeles, foi um dos promotores no processo contra Keating. De sua iniciativa encaminhou essa resposta a Madre Teresa:

“Cara Madre Teresa:

Sou um dos procuradores do Condado de Los Angeles, e um dos representantes da Procuradoria-Geral no processo contra o seu benfeitor Charles H. Keating. Li ao juiz Ito a carta que a senhora escreveu em defesa de Mr. Keating, na qual admite desconhecer as suas atividades e as acusações criminais apresentadas perante o juiz Ito. Lhe escrevo para fornecer um breve resumo dos crimes pelos quais Mr. Keating foi condenado, para que possa entender de onde veio o dinheiro que Mr. Keating lhe doou, e para lhe sugerir de cumprir o gesto moral e ético de devolver o dinheiro a seus legítimos proprietários.

Mr. Keating foi condenado por ter fraudado mais de 900.000 dólares a 17 pessoas que representam 17.000 cidadãos aos quais Mr. Keating tomou 252 milhões de dólares.

Mais detalhadamente, a fraude perpetrada por Mr. Keating consistiu numa série de declarações fraudulentas a pessoas que compraram ações de sua sociedade. […]

As vítimas da fraude de Mr. Keating pertencem a um vasto leque da sociedade. Umas eram ricas e instruídas, mas, na maioria, eram pessoas simples que pouco ou nada sabiam de alta finança.

Entre eles, até um pobre carpinteiro que nem sabe falar inglês e que, graças à fraude de Mr. Keating, perdeu tudo o que havia poupado durante a vida.

O lema da sua organização é “Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a mim que o fazeis” e são justamente os menores entre os irmãos os que Mr. Keating depenou sem piedade. […]

A senhora exorta o juiz –na hora de emitir a sentença de Charles Keating- a olhar no fundo de seu coração e a fazer o que faria Jesus.

Pois bem, eu desafio a senhora da mesma forma. Pergunte a si mesma o que faria Jesus de lhe doassem os frutos de um crime, o que faria Jesus se estivesse na posse de dinheiro roubado, o que faria Jesus se um ladrão o usasse para limpar a sua consciência.

Acredito que Jesus devolveria imediatamente os bens furtados a seus proprietários legítimos.

A senhora deveria fazer a mesma coisa.

Recebeu dinheiro de Mr. Keating o qual foi sentenciado por tê-lo furtado.

Não fique com aquele dinheiro. Devolva-o às pessoas que o ganharam com seu trabalho.

Se o deseja, posso fazer com que entre em contato diretamente com os legítimos proprietários dos bens que agora se encontram na sua posse.

Cordiais saudações,

Paul W. Turley”

O Dr. Turley jamais recebeu uma resposta e o dinheiro nunca foi devolvido. A Ordem fundada por Madre Teresa possui uma fortuna avaliada em meio bilhão de dólares.