Carta ao PAI

Agora sinto-me despojada e pronta pra abrir meu coração pra ti, PAI. Nasci numa família numerosa cuja principal luta era a subsistência, o medo do que poderia faltar, lamentavelmente não preocupávamos com repor,refazer, embora o fazíamos automaticamente. Amava sonhar com um futuro aonde tudo seria doce, claro, calmo e de muito amor. Divagando nos pensamentos a beira de um rio certa vez, indaguei-me a existência. Perguntei-me pra que eu existia, pra que eu estava ali. Meus pais exigentes, quase estilo general impunha em nós ensinamentos de conduta reta. Fui aluna de padre, pastor, jovens, idosos. experimentei cuidar de crianças e também de idosos. Vi que os dois em muito se assemelham, afinal carecem de cuidados e confiam piamente em quem os está cuidando.Dai cresceu em mim somente uma linha, retidão, amor ao próximo e que tudo viria com muita luta. Que eu deveria ser firme, sempre, fraquejar, JAMAIS.

É PAI, hoje me vejo um ser que tanto se dedica para melhoria da qualidade de vida do semelhante, porém num momento em que o individualismo impera. Num momento em que a pressa é cada vez maior. No trânsito ninguém vê quem está na rua, afinal seu objetivo é chegar, sabe-se lá aonde. As leituras disponíveis abordam cada vez mais a "desgraça" da humanidade. E olha que faz um tremendo sucesso! Sinto-me cansada, não da vida, mas da convivência. E pior, por vezes chego a pensar que estou na contramão da história. Sinto-me sobrando nessa selva rude que a todos arrasta com suas demandas gigantescas.

O que agradou ontem hoje não pode repetir, já não alegra. Corre-se muito e eu digo que é pra parar mais cedo. Paro pra olhar um sorriso inocente de uma criança, um pedido de ajuda de um idosos acamado e o que salta aos olhos é flagrantemente a ambição dos que vivem em meio a esse público.

Agora não! Agora não!.

Será que daqui a pouco será ouvido? Será que daqui a pouco alguém entenderá? Daqui a pouco a nós não pertence, portanto o que digo, digo agora. Digo agora que tenho em minha alma a certeza de que nada é pra sempre, que nada é o bastante quando não se põe limite no querer. Só não quero perder PAI o limite de amar. Amar aos meus amar aos seus, amar aos nossos, amar os outros. Amar, amar, amar.

Aurelice
Enviado por Aurelice em 29/09/2016
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