Para a mãe que um dia tive

Boa tarde querida mãe, como estás?

Aqui te escrevo, não sei que dia é hoje, mas sei que algures em algum momento estarás a ler esta mensagem.

Pois bem, mãe, sabes, a vida tem sido difícil, crescer é complicado, procuro entender o mundo e encontrar esperança todos os dias, tenho me mantido forte mas confesso que sinto falta de ser criança. Queria reaver os meus sonhos entendes?

Não sei o que se passa, ultimamente tens me desiludido muito, eu não sei o que é ser mãe mas sei o que é ser filha. Tu também deverias saber, pois já foste os dois. Como filha me manifesto através desta carta envolvida de sentimentos.

Sabias que palavras magoam? Eu ás vezes perco a paciência e desejo explodir e deixar que a minha boca diga coisas que não merecem ser ouvidas.

Mãe, uma vez disseste-me "Não faças aos outros aquilo que não gostas que te façam a ti." Eu sempre tive isso em conta mesmo tendo um temperamento complicado, por isso, não o farei, apenas engulo cada palavra gelada que sai da tua boca. Vou ser sincera, palavras frias não curam um coração magoado, não devemos deixar que isso nos controle, mas sim buscar amor todos os dias por mais que o céu esteja nublado. Minha mãe, já foste o meu orgulho sabias?

Quando eu era uma menininha, eu desejava ser como tu um dia.

Gabava-me na escola de ter a melhor mãe do mundo, a que melhor cozinhava, a que brincava comigo, a que me compreendia, a que estava sempre presente, aquela que me enchia de carinho e ternura. Era bom chegar a casa, a casa tinha um cheiro tão bom, era tão arrumada e a comida pronta, a melhor comida, feita pela melhor mãe. Lembro-me perfeitamente de me ajudares com os trabalhos de casa mesmo que o mundo estivesse a desabar para ti. Tu sorrias sempre e o teu sorriso alegrava meu dia mesmo quando eu chegava meio tristinha. Tive uma infância dura a meu ver, por motivos que só tu sabes, e sei que passaste por coisas piores que eu, mas mesmo com todos os teus problemas não deixavas nada abalar a nossa família, hoje sou uma mulher adulta mas ainda procuro por essa mãe que já tive um dia, aquela mãe que nos criou sozinha, aquela mãe que não deixou nada faltar, aquela mãe que nos dava forças para acreditarmos nos nossos sonhos... Hoje pergunto-me que mal fiz eu? Eu esforcei-me, tu sempre me disseste para não desistir, eu estudei, sabes como sou, sempre amei aprender, eu trabalhei duro porque sou uma mulher forte como tu disseste para ser, não tens mais orgulho em mim?

Eu sempre quis ser melhor, a cada dia, voar mais alto... Hoje vejo-me presa a correntes e atravessada por palavras afiadas que furam minha alma e rasgam meu coração.

Eu jamais te diria algo que te destruísse, eu sempre te apoiei, quando meus irmãos te viraram as costas. Eu larguei meus sonhos, meus objectivos, meu destino, tudo por ti e pela nossa família, deixei de ser quem eu sonhei que fosse, para ser aquela que desejavas, mas mãe, a cada dia que passa a desilusão é maior, a dor é maior, o sofrimento é maior. Sei que estás danificada, mas eu garanto que deixar que a tristeza nos consuma é a pior coisa a ser feita, uma vez ouvi que "A felicidade começa de dentro." Assim como as flores vêm de baixo da terra para poder florescer um dia.

Hoje voltáste a magoar-me e a cada dia o meu coração fica mais pesado. O que mais posso fazer? O que mais posso ser? Porque é que ainda me tratas assim?

Quero que saibas que dói pois eu, eu ainda tenho sonhos, mas já não tenho a minha mãe...

East Wind
Enviado por East Wind em 11/01/2017
Reeditado em 11/01/2017
Código do texto: T5878325
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