Carta de um hiato involuntário

Ando tristíssimo. Acho que você notou. Claro que notou, mas nunca pergunta nada. Você sabe que prefiro assim. Sempre te conto muitas semanas depois o que me afligiu e você escuta com uma paciência que me impressiona sempre. Sou desses tristes que não conta suas tristezas para ninguém e acabo sufocando depois. É péssimo, eu sei. Mas faz parte da minha vida. Sei que você sempre me deseja algo melhor, que se sente bem ao perceber um sorriso meu, o quanto estou falante e a quantidade de piadas sem graça que sou capaz de contar. Mas quando me calo e apenas decido viver sem vírgulas, você se preocupa, tenta saber o que aconteceu da forma mais discreta possível, mas não adianta. Eu sempre vou te contar muitas semanas depois. Sempre foi assim.

Estou aflito com essa coisa de viver, sabe? Isso de fazer tanto para nada me deprime: Querer fazer o meu melhor e depois ouvir que não serei bom o bastante me deprime; Promessas não cumpridas me deprimem mais ainda. Ultimamente não tenho feito nada; Só respiro fundo e sigo, sabe? Para não esquecer de como viver. Mas eu vivo muito mal e saber disso me causa mais tristeza ainda. Olha, eu não tenho vontade de ficar filosofando sobre a vida e tentando entender o que eu mereço ou não… Mas cadê o amor? Cadê a droga do amor?! Eu procuro tanto, acredito tanto, declaro tanto e ninguém se declara para mim? Acho que estou sentindo falta é de amor. Exigem tanto de mim e nem um pouquinho eu mereço? Não pode!

Ontem me entorpeci de tanto trabalhar, de estudar, de ler um monte de bobagens. Esqueci da minha vida miserável. Voltei para casa com o coração vazio, adormeci e acordei com o coração vazio, frio e falsificado. Fui trabalhar de novo no sábado. Tomei café reforçado, coloquei um CD de música clássica que nem sabia o nome, e me esqueci de tudo. Fiquei cansado e adormeci. Acordei ainda triste e a vida vai sendo assim. Tenho tentado não ficar egoísta. Você sabia que a todo o custo me vejo ainda acreditando no amor? Mas tem momentos que parece perda de tempo, mas ainda sigo acreditando. Desculpe se não estou bem…Mas é que me faltam algumas palavras de carinho, entende? A noite vai ser triste e vou adormecendo aos pouquinhos. Estou com tantos problemas e muitas vezes acho que ninguém se importa…O mundo acaba, a vida acaba, o vinho acaba e ninguém se importa. Olha, eu vou ficando por aqui porque tem um monte de lágrimas nos meus olhos e constrange um pouco.