Holocausto, Medo de Informação e Ignorância

Antes de tudo, eu preciso falar que meu coração sempre foi das exatas. No ensino fundamental e no ensino médio eu sempre fui apaixonado por química e biologia, fiz curso técnico na área, fiz faculdade na área e agora planejo uma segunda graduação também nesta área.

Eu sempre tive o raciocínio lógico muito aguçado, e matérias como geografia nunca me motivaram. A única exceção à regra sempre foi história. Eu adorava história. Para mim sempre foi incrível pensar em coisas que aconteceram anos e anos antes de eu nascer, e como esses acontecimentos mudaram o mundo em que vivemos hoje. Dentro os diversos acontecimentos históricos que estudamos durante nossa vida acadêmica, o que mais sempre me chamou atenção foi a Segunda Guerra Mundial, o Nazismo e o Holocausto. Não por concordar com ideologias nazistas, mas pelo lado psicológico da coisa.

Há alguns anos li o livro 'Depois de Auschwitz', que basicamente relata a história de uma sobrevivente do campo de concentração Auschwitz-Birkenau. Quando você lê um livro desses é impossível não se colocar no lugar da pessoa e se imaginar passando por todo aquele sofrimento. Na mesma época li também o Diário de Anne Frank e mais dois livros que contam relatos de sobreviventes do Holocausto, e todos descrevem o governo nazista como uma força implacável cujo único objetivo era exterminar judeus. Durante estas leituras, eu sempre pensava "O que se passava na cabeça de Hitler?". Assim que eu acabava um livro minha mãe o começava, e quando ela acabava nós debatíamos o que havíamos lido. Um dos primeiros comentários que ela me fez foi algo como "queria saber o que Hitler tinha na cabeça". E eu percebi que não era só eu que tinha curiosidade para ver o outro lado da moeda. Eu queria entrar na cabeça de Hitler para tentar entender o que leva uma pessoa à promover um dos maiores massacres da Humanidade.

No dia 1º de janeiro de 2016, o livro Mein Kampf, de Adolf Hitler, teve seus direitos autorais expirados e sua impressão e venda liberada para todo o mundo. E isso me deixou muito feliz! Eu queria saber o que se passava, e nada melhor para entender a cabeça de alguém do que ler a história e as convicções que a motivaram escritas por ela mesma. Um dia depois do fim dos direitos autorais começaram surgir debates acalorados por aí onde as pessoas eram totalmente contras a divulgação de tal livro, argumentando que "a leitura deste livro poderia dar novo fôlego ao nazismo". E eu não concordei nem um pouco! Sempre considerei o movimento nazista como um movimento ignorante. E o único modo de combater a ignorância é com informação.

E então saí à caçada do Mein Kampf. Enquanto procurava, muitas pessoas me perguntavam se eu gostava do nazismo, se eu apoiava Hitler. Minha mãe estava preocupada de eu ler o livro na rua e alguém achar que eu apoiava Hitler e me atacar. Eu achava que isso não era possível. Em pleno século XXI alguém ser atacado por ler um livro! Pois na mesma semana que o livro voltou a ser vendido um rapaz foi atacado na Bélgica por estar com o livro em mãos.

As pessoas me perguntavam se eu apoiava os nazistas, mas no fim elas que estavam tendo atitudes de um nazista. A informação combate a ignorância, mas depois de toda a discussão pelo lançamento do livro e toda essa polêmica, eu me pergunto: As pessoas querem deixar de ser ignorantes? Ou ser ignorante é mais fácil do que entender o que se passa com o mundo?