Para à alma gêmea

Dizem que as almas surgem aos pares, por isso o termo alma gêmea. Uma alma gêmea! Quanta loucura no universo. Talvez jamais reencontremos nossas contrapartes, suspeito que minha alma gêmea esteja num local tão remoto que nem ao menos consigo senti-la e confesso estar isento de esperanças quanto a isso. Mas o que fazes, minha alma gêmea? Gostas de música? És sonhadora? Gostas de escrever coisas medíocres em dias nublados? Espero que estejas bem, desejo-te alguma paz. Saibas que as pulgas de um cão vira lata valem mais que um adulto que bate em criança, que os micróbios dos banheiros dos botecos do centro da cidade são mais nobres que nossos governantes, que os vermes das fases dos ratos que habitam tubulações de esgoto são mais retos que as almas dos párias do Vaticano e que nem mesmo as vestes de todos os faraós poderiam arcam com a fiança de suas inexoráveis futuras prisões. Ó minha alma gêmea, jamais sequer visites o globo azul situado às margens da Via-Láctea, senão serás o teu fim! O teu fim! E ficaremos ainda mais longínquos tendo outra vez a solidão com duquesa reinando durante tantos outros eons. Minha alma gêmea, preciso de um maldito emprego mas não consigo inspiração nem pra levantar da cama, quiçá implorar aos energúmenos alguma triste escravidão remunerada. Rasgue o espaço-tempo e me alcance ao menos uma vez! Talvez hoje! Nesse dia tão pobre que até mesmo as flores parecem exaustas e o sol se oculta atrás das nuvens como a quem tenta escapar de uma insólita obrigação. Ó meu outro eu! Sei que além da névoa, há o céu, o mar, onde a vida celebra a verdade do amor e Deus destrói as trevas. Mas nós, num outro lugar, exilados de nós mesmos, dançamos sozinhos imaginando estarmos completos ainda que por um breve instante, sorrindo. Juntos outra vez.

Cristiano Corrêa
Enviado por Cristiano Corrêa em 28/04/2017
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