Carta a uma amiga do Facebook


Eu sei que te disseram que é melhor abstrair, deixar pra lá, fingir que não viu ou que não compreendeu as indiretas que lhe jogam; sei que talvez esta seja até a tal política da boa vizinhança; mas eu creio que quando algum dos nossos "vizinhos" nos obrigam a engolir uma pílula amarga uma única vez, talvez até valha a pena fazê-lo, pela paz geral. Porém, se esta pílula nos é apresentada esporadicamente, junto com o copo d'água suja que ele deseja que usemos para engolí-la, está na hora de dizer um basta. 

Engolir essa água suja com essa pílula amarga que nos causa desconforto, insônia, tristeza, amargura e enjôo, e que pode vir a somatizar alguma doença grave no futuro - todos sabemos que reprimir emoções causa doenças graves - melhor é cuspí-la de vez, e encerrar o assunto, sendo claro que não estará mais disposto a aceitar tais pílulas. 

Passar uma vida inteira ficando aonde nos colocam pode fazer que todos se sintam confortáveis - menos nós mesmos.

Posso te dizer por experiência, amiga: isso só adia indefinidamente um confronto que é necessário; não falo de briga, mas de estabelecer um lugar na nossa própria vida, entre as pessoas que amamos e as coisas que conquistamos. Espero que com você aconteça bem mais cedo do que aconteceu comigo, porque eu perdi tempo demais sendo boazinha e "deixando fluir." 

É fácil dizer: "Releve, finja que não entendeu ou que não viu. Seja superior." Entendi que ninguém prova superioridade colocando-se em um lugar inferior. Quem fala isso pra gente não vai para casa com um sapo na garganta, e nem chora durante a noite pra ninguém ver, e também não somatiza as doenças que vêm com essa mania de ceder sempre, fingir que não vê ou não entende sempre e ficar lá no cantinho da cozinha enquanto a festa acontece na sala...


Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 12/05/2017
Reeditado em 12/05/2017
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