Carta Poética - Ainda Escrevo

AINDA ESCREVO

Eu escrevia de mim.

Ah sim eu escrevia.

Eu escrevia pra mim.

Talvez motivado pela muita leitura que fazia.

Sim eu lia. Ah eu lia e escrevia. Enfim.

Mesmo sem o talento dos escritores, continuei a escrever.

Mais eu as escondia. Ninguém via. Ninguém lia.

Poesias medíocres, contos sem pé sem cabeça.

Eu escrevia a beça. Eu escrevia.

Versos distantes, sem nexo.

Versos de sexo. Paixão. O pensar, o papel, a pena, a mão.

Gramática escorregadia, vagas na pontuação.

Ainda assim escrever. Gostava de ler o que escrevia.

Eu escrevia e as guardava. As escondia.

Pouquíssimas pessoas tomavam conhecimento.

Não sei; não sei. Talvez não fosse o momento.

Minha escrita flutuava entre a beleza da vida, o futuro a esperança...

Uma escrita fluida. Uma escrita criança.

Depois eu te conheci. Por você me apaixonei.

Aí sim que escrevi. Mas não mais eu as guardei.

Dividi contigo esse meu tesouro particular e de valor só para mim.

Então te dei. Minha escrita te dei.

Falava de ti e de mim.

E tu disseste: que lindo!

E mais e mais eu escrevia. Fluido, fluindo. Fluia.

E minha escrita cresceu. Foi indo, fui indo. Escrevendo; escrevia. Você vendo, você lia.

E um dia te perdi. Minha escrita mudou. Se perdeu.

Ficou densa, ficou tensa e pesada; e aos poucos, melhorada. Motivada pela dor.

Movida pelo sentimento. Poesia de momento, de lembranças.

Versos de ti e de mim. Versos sem mais esperanças.

Poesia de saudade pela perda do amor. Versos apenas de dor; e do amor perdido.

Versos avesso, reverso. Alguns sem nenhum sentido. Aos pedaços. Aos pedaços.

Como eu mesmo estava. Pedaços espalhados de um coração partido.

Escrevendo minhas lágrimas. Borrava as letras no choro. Expressava meus gemidos.

Suspirar. Suspirar. Deitar, dormir, acordar. Você. Você na mente.

Eternamente. Éter. Etéreo. Éter na mente.

Caído, sombrio, triste. Entristecido. Jogado, ferido.

Joga os dados o destino. E você me tira. Verdade, verdade.

A escrita assina. Eu cripta sombria. Culpa assassina. Mentira.

Culpado. Envergonhado, parti. E coração partido. Desnudo; despido.

Ainda escrevo. Ainda escrevia. Você não viu; e não mais via.

Ainda escrevo pra ti. Escrevo de ti. De mim pouco escrevo.

Não são mais tesouros. Lamentos, desaforos. E outros leem. Outros lerão.

Ainda escrevo, coração.

Ainda escrevo.

(Farias Israel-dez/2013-SP)

Farias Israel
Enviado por Farias Israel em 23/06/2017
Reeditado em 23/06/2017
Código do texto: T6035326
Classificação de conteúdo: seguro