Endereçada à alma que me fechar os olhos

Hoje foi uma manhã diferente das outras

Não acordei de mau humor nem com aquele gosto acre na boca

Acordei ansiosa, como se algo inesperado fosse acontecer

Levantei-me e escovei os dentes, hábitos comuns, mas naquele dia pareciam memoráveis

Olhei pela janela

Um sol brilhante, um céu sem nuvens

Encantador para qualquer outra pessoa, mas para mim não tinha nada de bonito

Talvez, de indecifrável

Andei pela casa procurando o que fazer, quando notei que algo me chamava

Uma sensação estranha tomou conta de mim

Olhei a minha volta

Estava como sempre só, não havia ninguém

Comecei a ficar deprimida

O sabor das outras manhãs voltava a minha memória

Aquele sabor amargo que corrói a vida

Tentei lembrar-me de estórias alegres, mas como? Nunca as vivi

Veio-me então uma idéia que fez meu coração acelerar

As sensações ruins evaporaram-se

Fui a cozinha

Peguei a faca

Pude olhar, pela última vez, meu reflexo nela

Cortei o pescoço

Agonizei até a última gota de meu sangue sair

Sorri

Realmente algo inesperado aconteceu