Carta_Onde vivem os fortes.
E mais uma vez estou eu aqui, parado, inerte, observando a bagunça causada pela intenção de ser.
Já fazem dois anos desde que resolvi me tornar eu mesmo e encarar todos os riscos que esse desafio me traria. Não há mais filtros nem sorrisos forçados, tampouco brechas para aceitar os que não me aceitam.
Passei a sair de círculos para que eles virassem triângulos e de triângulos para que eles fossem apenas linhas. Eu sai.
Queria ver como todos reagiam a falta que eu fazia e, que grande surpresa, eu não fazia falta alguma.
Aos poucos fui percebendo que a medida que me doei pra cada pessoa eu me afastei ainda mais de mim.
Que bom que dentre tantos aquele que mais sentira minha falta foi eu mesmo e me procurei por todos os lados, nos becos e na névoa da madrugada. E eu estava ali, eu sempre estive ali.
Me estendi a mão e me ofereci abrigo.
Me salvei de ser para todos, por todos, com todos.
E passei a ser para mim, por mim, comigo.
Os fortes vivem soltos, esquecidos em meio ao nada, caminhando em caminhos de folhas secas, solitários porém verdadeiros. E lá que eu vivo.