CARTA AO DOUTOR SEPÚLVEDA PERTENCE

Prezado e excelentíssimo colega. Desculpe-me a petulância de nominar-me seu colega. É que o vi dia desses na TV, já com a aparência exibindo o desgaste inexorável pelo tempo, a vociferar contra os Ministros do STJ ante uma acachapante derrota de seu Cliente, Luís Inácio Lula da Silva, naquela Corte. Não consegui ver na sua figura, naquele momento, um ex-Presidente do STF, mas sim um advogado espezinhado aqueles de quem é ex-colega e que, por certo, um dia o admiraram quando coberto pela toga maior do Poder judiciário. Pra mim foi uma cena inusitada e em rede nacional. Nela vi tão somente um “advogado”, frustrado, ainda que regiamente pago pelo cliente, cliente este que também seria ilustre, não tivesse enveredado pelos caminhos da corrupção, senão da traição e dos crimes de lesa-pátria. Mas curioso, aquela cena me recordou um outro, este sim, nobilíssimo colega nosso. Refiro-me a PIERO CALAMANDREI que me fez lembrar uma lição inolvidável a cair como luvas à Vossa Excelência, veja-se:

“Sinto um ligeiro mal-estar quando encontro em audiência pedindo adiamento com a pasta de couro debaixo do braço, algum magistrado aposentado que, tendo atingido o limite de idade, pôs-se a advogar. Sim, nós sabemos: advocacia e magistratura estão moralmente no mesmo nível e trocar a toga pela beca não é rebaixar-se. Mas ontem nós o víamos austeros e solenes em seu escano, prontos para criticar nossas rixas advocatícias, e ouvíamos dizer que eles eram melhores que nós porque haviam alcançado, exercendo a imparcialidade a vida inteira, aquela serena tranquilidade de espírito que permite aos velhos avaliar e compadecer-se do alto, como miséria que não os alcançam, as paixões e a cupidez da turbulenta juventude. Dá pena tornar a vê-los agora, em meio a nós, agitados e acres nas nossas mesmas escaramuças, e ouvir sua voz, já tornada um tanto trêmula pelos anos, assumir tons de retórica indignação por conta dos clientes. (...)” CALAMANDREI, Piero. ELES, OS JUÍZES, VISTOS POR UM ADVOGADO. Livraria Martins Fontes Editora LTDA, 1ª Edição. São Paulo. 1997. Pg. 354.

E que cliente o levou a este papel, hein meu caro e excelentíssimo colega?

a) Araken Brasileiro Ferreira

ARAKEN BRASILEIRO
Enviado por ARAKEN BRASILEIRO em 09/03/2018
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