Porque admiramos tanto a música castelhana?

Embora eu seja brasileiro, natural de Itaqui, morei mais de vinte anos na Argentina, em diferentes regiões: Província de Buenos Aires, na época (anos 70 e 80), um lugar lindíssimo, pois para lá afluíam pessoas de todas as regiões argentinas, devido ao já conhecido êxodo rural. Conseqüentemente a isto, tive oportunidade de entrar em contato direto com o folclore de diferentes regiões do país. Somando-se a isto, sou filho de correntino, nasci e cresci embalado num dos ritmos mais lindos que conheço; estou falando, é claro, do chamamé. Logo fui morar na fronteira e, depois, na capital correntina (Corrientes Capital), onde cursei, por um tempo, faculdade e, por incrível que pareça, para aquela Universidade, convergiam pessoas vindas de todas as partes do país e também da América do Sul.

Faço este breve comentário, como aval e sustentação para a seguinte reflexão: a partir da “explosão” do nativismo, nossos (gaúchos) arranjos e estilos musicais começaram a se assemelhar aos argentinos. Ainda falta muito, porém a temática, na maioria dos casos, é muito diferente. A Argentina, embora com um padrão cultural acima do nosso, possui, no geral, um povo muito simples e, ao mesmo tempo, bem mais sensível: se emocionam e cantam, com paixão, suas temáticas cotidianas. Nossos letristas ainda estão (não sei o porquê) muito atados ao cavalo, ao gado, ao galpão, etc.. Não que isto não faça parte da cultura gaúcha, mas esta, no entanto, é bem mais do que isto. Eles se utilizam de seus ritmos folclóricos para cantar, também, o amor, o carnaval, o amor que se perdeu, a tristeza, o civismo, o ufanismo e assim por diante. Mas talvez um dos principais motivos da não muita aceitação da nossa música gaúcha na Argentina, embora haja similaridade nos ritmos, seja a questão idiomática. Explico o porquê: a Argentina é um País Folclórico (ou folklorico, como eles escrevem) e nós, no entanto, somos um estado e, deste só uma parcela, é folclórica (não esquecendo o grande número de gaúchos que detestam música gaúcha, sem falar do resto do país). A música argentina chega até nós através da fronteira. As pessoas que residem ali têm, em função da proximidade, uma grande familiaridade com o idioma e terminam divulgando a música para o resto do estado rio-grandense, pois a região da fronteira é um forte pólo gerador de música nativista. Já, daqui pra lá, não ocorre o mesmo fenômeno, pois os grandes pólos geradores da música folclórica argentina encontram-se no centro do país (Córdoba, Tucuman, Santiago del Estero e Santa Fé) e a noroeste (Salta e Jujuy) e estes não têm familiaridade nenhuma com o idioma português, o que impossibilita, de uma forma extrema, seu entendimento. Conseqüentemente a isto, acaba por ocorrer uma falta de divulgação da nossa música regional gaúcha junto àquele país.

Desculpem por, talvez, ter me estendido... mas creio que o tema assim o exigiu.

Um abraço para todos,

César Sanchez.