E morreu...
Pois é, simples assim.
Não teve grande final, um tocar de sinos, choro e drama exagerado como tudo parecia ser na pacata vida que lutou todos os dias para que deixasse de ser... Mas, o mundo nunca esteve muito a seu favor, né?
E você nem podia reclamar. Tinha emprego, nunca passou fome, colocava casaco no frio e roupa curta no calor, morava perto da praia, fez faculdade - duas! -, escreveu um livro, saiu do país. Que bela privilegiada você era, menina.
Ninguém entendia, no entanto, porque você era triste. Porque chorava antes de dormir, porque nunca sorria com sinceridade, porque havia tanta dor em seu coração. Pobre menina nem tão pobre sim, que nunca foi rica, mas, também não podia tomar o lugar na estatística de quem passava necessidade.
Mas, morreu assim: nua, deitada na cama, do jeitinho que veio ao mundo. As lágrimas ainda manchavam o rosto, o suor pingava da testa e todos os cachos formavam uma cortina que se misturava ao travesseiro. Perfeita, sim, ela era. E de tanto ser, cansou, foi murchando aos poucos, definhando aos poucos.
De pouquinho em pouquinho, encheu o copo do próprio veneno e tomou até o fim.
Morreu, mas permanece aqui sua memória, o jeito trágico de viver a vida e as dores que cultivou. Segue vivendo no peito do ex namorado que nunca lhe pediu desculpas, no grande amor do passado que nunca lutou por ela, nas amizades que nunca mais lhe procuraram, na família que nunca a compreendeu...
E em todos os nuncas, também morreu.
Em vida, mais um bocadinho a cada instante.
E de tanto morrer de mentirinha, um dia ela morre mesmo, pois não vai haver mais nada que a mantenha viva.