7 anos

Seu cabelo tem o melhor cheio que eu já senti. Ainda com o passar do tempo, é só fechar os olhos e lembrar das inúmeras vezes que eu afundei o rosto no seu pescoço ou apoiei o queixo no topo da sua cabeça, que eu sinto. Vem tão forte... Como um soco, como uma canção que você amava, mas ficou tanto tempo sem escutar que assim que lembra, toda letra e melodia te atingem de uma vez. Essa música permeia meus sonhos, faz com que meu cérebro relaxado viaje por lugares onde, desperta, jamais pensaria em ir.

Eu não tenho mais palavras para por em cartas para você. Hoje vi a data e me lembrei, fiz as contas, refiz, contei até nos dedos, sem conseguir acreditar que o tempo havia passado tão depressa. 7 anos e eu ainda não esqueci você. 7 anos e eu ainda sonho com a sua imagem. 7 anos e eu ainda abro a sua janela de conversas do aplicativo de mensagens, esperando - débilmente - ver algo que passou batido, qualquer coisa que justificasse sua partida, sua ausência nesse tempo, mas... Sou eu quem escrevo para você, sempre, nessas milhões de cartas anônimas que apenas se acumulam ao longo dos anos. Talvez um dia se lembre que eu costumava colocar meus textos aqui e venha espiar, por curiosidade ou mera vaidade de pensar que eu poderia ter escrito algo para você.

Imagino a sua surpresa quando, nesses 7 anos, isso é tudo o que eu tenho feito. Nós eramos crianças, cometemos erros, não podíamos ficar parados no lugar, então a gente fugiu... Mas, você é um homem agora, não é? Então, porque continuamos correndo em direções opostas? Muito embora eu não saiba qual vai ser o destino do mundo quando o calendário marcar sete anos mais, eu espero ter escrito um zilhão de cartas até lá e te entregar todas elas para que possa ler com seus pulsos finos apoiados sobre a mesa, franzindo as sobrancelhas peludas e sentindo o coração pulsar por detrás desse teu peito magro.

O amor não morre, sabe? Ele só encontra coisas com que se ocupar. Eu me ocupo de desamar você todos os dias e, como pode ver, tenho feito um péssimo trabalho.